ÍNDIA INACÍ

       

De origem nobre e apresentando uma rara beleza, mas porém melancólica, Inací era a primogênita do guerreiro Saiá, que tinha sido próspera nação dos Coroados, o primeiro chefe e conselheiro.

Protegida de Nhanderú (Tupã para os jesuítas) e ansiando pela imortalidade no sacro Ibiapaba, costumava Inací meditar em grande silêncio, sobre a onisciência dos divinos deuses, louvando com melodiosos cânticos, os feitos guerreiros de seu pai e dos homens valentes de sua nação.

Tal meditação era realizada no elevado rochedo Ibiá, na lendária e mágica planície do imenso e frutífero Paraná.

Ali aprendeu ela com a deusa Caupé, a divina arte de tecer da áspera urtiga, lindas mantas, trabalho que realizava com extremo esmero e que muito enobreceu a valorosa nação dos Coroados.

Durante as horas de profunda meditação a jovem guerreira quase nunca permanecia só, pois suas irmãs e os imortais Perôs (deuses do tormento, do desespero e da maledicência) vinham atormentá-la, sussurrando em seus ouvidos, palavras impuras. Uma tarde, ao escurecer, meditava a virgem Inací, no seu lugar habitual e tocava a sua melodia inúbia que lhe presenteara a meiga Caupé, quando chegaram os deuses impiedosos com suas perversas brincadeiras para martirizá-la.

Neste momento, o poderoso Guaraci (deus do Sol) já lançava seus últimos raios sobre a terra e Nhanderú, do alto Ibiapaba, abençoava todos os seus filhos do Brasil, derramando por sobre os montes, vales, florestas e planícies, os seus dourados raios de ouro. Então, Inací, que já não agüentava mais tanta provocação daqueles deuses insolentes e desejando um melhor lugar mais perto das deuses, suplicou ao imortal Nhanderú que ouvisse suas preces e se apiedasse dela.

Compadecido e atendendo a súplica da filha de Saiá, o poderoso pai dos trovão desceu até ali, onde esta a jovem imortal e tocando-lhe com muito carinho, metamorfoseou-se o ser de Inací, transformando-a numa linda mariposa rajada, perdendo contudo, o direito da imortalidade luminosa.

Por isso, até os dias de hoje, as mariposas só aparecem voando, depois de ocultar-se a luz do dia, nos lugares ermos e rodeiam e suspiram em tornam da luz.

O SILÊNCIO INDÍGENA

A arrogância espiritual era estranha a natureza e essência do índio. Jamais acreditou que a linguagem articulada fosse prova de superioridade. O índio crê profundamente no silêncio. O silêncio é a balança de equilíbrio absoluto do corpo, mente e espírito.

O homem que mantiver sua individualidade sempre calma e firme frente as tormentas da vida, será presenteado com a mente de um sábio letrado.

ARQUÉTIPO DA FEMINILIDADE/MORTE

Todos os organismos metamórficos levam em seu código genético a informação necessária para evoluir em etapas: ovo - larva - crisálida - mariposa. Cada etapa possui uma forma e estrutura determinadas por um processo natural de extrema eficiência. Para o "ovo" converge toda a potencialidade do ser, que realizando uma mágica metamorfose, sai dele um animal primaveril, como a borboleta ou a noturna mariposa.

O aspecto mais importante do seu simbolismo é a sua metamorfose em crisálida: a mariposa que sai dela é símbolo de ressurreição e de transmutação.

Para os astecas, a mariposa era conhecida como o "Sol Negro" que atravessava os mundos subterrâneos em sua viagem noturna. Ela pode ser também o símbolo do fogo ctônico oculto (em oposição ao fogo celeste diurno) e está ligada a idéia de sacrifício, de morte e ressurreição, como já mencionei. Todos estes são atributos associados à morte.

A Mariposa é símbolo da alma à procura do divino e consumida pelo amor místico como a borboleta que queima suas asas em torno da qual voa e cuja a luz a atrai irresistivelmente. É também símbolo de uma humanidade que anseia levantar vôo para as alturas do amor e que, em uma noite fria, clama por mais asas.

                    Texto pesquisado e desenvolvido por

Rosane Volpatto

Bibliografia Consultada:

As Mais Belas Lendas Brasileiras - Wilson Pinto

Indiologia - Angione Costa

História da Civilização Brasileira - Brasil Bandecchi

Índios do Brasil - Lima Figueiredo