 

A IRA DA GUERRA...
O poderio de um guerreiro
indígena, estava
virtualmente simbolizado em seu armamento.
Entre os Tupinambá, um
indivíduo jamais seria admitido no círculo dos adultos ou poderia casar antes
do aprisionamento e o sacrifício de um inimigo. Entretanto, à medida que sua
coragem, suas habilidades e seus feitos guerreiros se tornavam conhecidos,
podendo ser rememorados os inimigos sacrificados, bem como computados os nomes
assim obtidos, fazia-se alvo de honrarias especiais e adquiria extensa
influência pessoal.
Na sociedade Tupinambá, a guerra
era condição de "equilíbrio social". Uma das principais fontes de
perturbação deste equilíbrio era o "derramamento de sangue com êxito
fatal", de um membro da tribo, em combate singulares, das incursões
guerreiras ou das guerras de invasão. Qualquer que fosse a situação, a
responsabilidade pela ocorrência era atribuída ao grupo local a que pertencia
o autor da morte. A revindita (vingança) tornava-se necessária e devia ser dirigida contra
os responsáveis pelo ato. Somente a consumação da revindita (vingança) podia
restabelecer o estado de euforia social e a normalidade da vida tribal. A
retaliação não precisava ser, entretanto, necessariamente vicária. Quando
havia possibilidade, o próprio culpado pagava com a vida o derramamento de
sangue. É o que conhecemos por "olho por olho, dente por dente".
Para os Tupinambá a revindita
assumia a forma de punição das profanações de caráter sagrado do "Nós"
coletivo. As práticas antropofágicas constituíam o ato final da
punição.
Referindo-se aos efeitos gerais
das guerras intertribais, escrevia Acunã: "é o desaguadoro ordinário de
tanta multidão, sem a qual já não caberiam naquela terra".
As incursões guerreiras ocorriam
em geral entre as comunidades inimigas que competiam dentro de áreas
territoriais contíguas. Elas eram mais freqüentes nas zonas lindeiras. Ainda,
um dos objetivo delas (incursões) tendia à preservação "status quo"
ecológico. Cada grupo, deste modo, aumentava o território sujeito ao seu
domínio.
A
guerra, a atribuição de "status" ao prisioneiro, o sacrifício
ritual, a antropofagia cerimonial e as cerimônias de renomação constituíam
variáveis de uma mesma função. Entre elas, deve-se mencionar a sua relação
com a determinação do "status" no sistema de relações intragrupal
e tribal:
o
papel do adestramento guerreiro das novas gerações na continuidade do sistema
de categoria de idades; a atualização dos valores tribais associados ao
complexo guerreiro, a perpetuação e intensificação dos laços de
solidariedade intragrupal e tribal; e, por fim, a própria conservação de um
estado equilíbrio intragrupal, intercomunitário e intertribal, considerado
ideal ou "eunômico".
Depois
que o assentamento dos brancos espalharam-se e confinaram a alma livre do índio
em reservas, foi lhe imposto um outro estilo de vida. A maioria dos guerreiros
permaneceu com sonhos de guerra e liberdade sem poder utilizá-los. Até poderia
sonhar com uma canção de guerra, que o ajudaria a enfrentar a morte, mas a lei
dos brancos lhe proibiu a guerra. Então, o guerreiro faria um estandarte com o
emblema de seu sonho e o fincaria em um mastro na frente de sua moradia. Pelo
menos os vizinhos ficariam sabendo que ele carregava o peso de uma canção que
nunca mais poderia cantar...

AS
OUTRAS ATIVIDADES...
A
CAÇA e A PESCA

Para
caçada, os Caiapós usam o termo "mrü kubin" (matar caça), ou
"mrü-kubin pa", cuja palavra "pa", sonoriza o bater da
borduna, do machado ou da flecha. Para pescar, dizem "tep-kubin", que
quer dizer, matar peixes ou retirá-los do fundo das águas.
Os
Caiapó se autodenominam Mebêngôkre, “Gente do Buraco do Rio” ou seja me
(gente), be (condição ou estado de ser), ngô (água) e kre (buraco), na
linguagem Tupi “Cai-pó”, quer dizer “carrega o Fogo”. São um povo
bastante numeroso nos estados do Pará e Mato Grosso, estimado em
aproximadamente 5.000 índios
A
caça, a pesca e a coleta de frutos constitui fatores decisivos no modo de viver
dos Caiapós. A caçada nas matas virgens, com todos os seus perigos e
implicações, é trabalho masculino dos mais duros. Entretanto, ao lado da
dança, das cerimônias e do amor, é a que sentimentos de vida mais intensos
oferece aos indígenas. Além disso, integra rituais de culto, tais como as
cerimônias de iniciação dos jovens, bem como as festas de culto, cujo ponto
alto sempre é precedido por uma grande caçada coletiva.
A
caçada para o índio, representa uma luta até as últimas conseqüências, com
o objetivo da matança. Há um enfrentamento de forças, que por vezes, pode ser
superior ao homem. Mas quanto mais forte for seu oponente, mais valoroso é o
sabor da vitória. Mas a caçada, contudo, não é uma prova de inimizade eterna
entre o homem e o animal, mas somente uma prova de forças, servindo ao sustento
e à proteção da vida humana. Os animais, portanto, só eram abatidos com a
finalidade de víveres. A transgressão desta lei era considerada crime. E,
apesar da luta e da caça, o animal continua sendo parceiro do índio e, entre
ambos, até podem existir ternos laços de afeição. Tal aspecto é visto e
comprovado no dia-a-dia do indígena, pela manutenção de animais domésticos,
que são tratados como quase uma pessoa da família (nyõ-krit).
Segundo
o mito do jaguar, ele transcende tanto a condição de homem quanto a de animal.
Em sua morada recebeu como herói, o herói cultural. Foi deste pai, que o
menino, representando a humanidade, recebeu as armas clássicas de caça: o arco
e a flecha. O jaguar entrega-lhe tais armas, a fim de proteger o menino
bem-amado dos de sua espécie. Portanto, foi do próprio animal, do caçador
mais forte entre os felinos, que o homem consegue seus melhores implementos de
caça.
Os
Caiapós conhecidos por sua bravura, são guerreiros que mantêm sua cultura
tradicional, além de serem exímios artesãos que tem na borduna um símbolo
das armas de caça e guerra.
A
caça e a captura de animais fazem parte das atividades cotidianas do guarani.
Eles usam vários tipos de arapuca chamadas mondeu e também em algumas armas
dos brancos. Em conseqüência dos contatos culturais, a técnica de fabricar
armas tradicionais passou a ser uma atividade comercial. Para a pesca eles usam
técnica de parí ou mondeu para peixe.
Os
Karajá, pescam com arco flecha, arpão, rede ou anzol. O pirarucu, um dos
maiores peixes de água doce, ainda é pescado de forma primitiva através de
uma rede de embira (cipó) ou algodão. Neste processo, participam vários
índios. Quando o pirarucu se enrosca na rede, o índio mergulha e o agarra,
cavalgando-o até que se canse. Depois conduz o peixe até a praia. Morto, é
carregado na ubá (canoa), até a aldeia. Se o peixe é muito grande, se
utilizam do arpão. Mais recentemente, os Karajá, passaram a pescar com uma
planta chamada timbó, cuja folhagem batem dentro da água matando os peixes.
Devem ter aprendido com os Xavante este tipo de pescaria, que ainda é usada em
algumas cidades do litoral do Brasil.
O
pirarucu é um grande peixe, típico do Amazonas, vem até as águas do rio
Tapirapé pelo Araguaia, é carregado nas costas, num cesto, pelos índios
tapirapé.

OS
CESTOS

Os
índios tapirapé trançam com folhas de palmeira babaçu um cesto sólido para
carregar nas costas. Têm a forma de um grande canudo: é o "pehyra".
Os
Karajá fazem os "behulé", um cesto para ser carregado exclusivamente
por homens. Prendem os cestos às costas com tiras de embira (palmeira) largas,
como se fossem uma mochila. Passam uma das tiras na testa de seu transportador.
Carregam o pirarucu, grande peixe de escamas, da água doce dentro deles. Há
também cestos duplos, de forma oval que servem para homens e mulheres carregar
objetos de pequeno porte.
Aos
homens era dedicado, além do trabalho da caça da pesca, a fabricação de
tacapes, arcos, flechas e todas as suas armas. A caça de uma onça, atraía
para o guerreiro honras e a aquisição de um novo nome. Todo o Tupinambá,
necessitava ser primeiro um bom caçador, para depois tornar-se um bom
guerreiro.
Entre
o elemento indígena, sempre coexistiu o pescador, o caçador e o guerreiro.

O
DOMÍNIO DAS ARMAS..

Os índios usam vários tipos de armas para caça, pesca, defesa ou guerra.
Entre elas:
O ARCO E FLECHA PERFEITOS

O
arco e flecha é a arma indígena mais conhecida.
Os arcos eram confeccionados com madeira rija
e flexível, tendo suas extremidades presas por uma corda feita com fibras
vegetais, geralmente de tucum. A forma que o arco toma depois de pronto e o modo
de amarrar a corda serviam para caracterizar um grupo indígena. Hermann Mayer
classificou os arcos e as flechas do Brasil em vários grupos, baseado na
secção transversal do arco e na maneira de emplumação das setas.
As flechas constam de três
partes: a ponteira, a haste e a emplumação. As ponteiras, de madeira dura, de
ossos, de espinhas de peixe ou metal, ostentam o mais variado aspecto, consoante
com o fim que se destinam. Para caça de aves, são arredondadas em forma de
bastão; para a pesca tem faces de um arpão; para caça de animais avantajados
a ponta é aguçada seguida de dentes, ou seja, ressaltos dentados. As hastes,
de madeira, de cana brava ou de taquara eram formadas de uma única peça
inteiriça ou de várias partes conjugadas: os tupinambás, segundo pesquisa
compulsada, construíam as hastes das suas flechas com três pedaços, sendo o
do centro de junco e os das extremidades de madeira pesada.

A emplumação dá o aspecto
garrido à flecha e sempre disposta no ramo descendente da trajetória, isto é,
quando a força de impulsão do atirador se anula, ela dá a seta um movimento
de rotação.
O arco e a flecha, possuem um
efetivo alcance de cerca de 30 metros.
O principal problema na guerra
era o remuniciamento das flechas. Cada guerreiro transportava a tiracolo
um cesto de flechas. Iniciada a luta, cada contendor se remuniciava com as
próprias flechas desferidas pelo adversário. O padre Gonzales, certa vez, no
Paraná, ganhou um combate de modo original: atacado por índios não reduzidos,
proibiu que seus conversos revidassem o ataque que estavam sofrendo. No fim de
certo tempo os atacantes não possuíam mais setas para arremessar, foram
obrigadas a fugir perseguidos dos seus inimigos, que lhe infligiram uma
formidável derrota.

LENDA DA ORIGEM DO ARCO (Orlando
e Cláudio Villas Boas)

Avinhocá resolveu, às margens
do rio Kuluene, acima da foz do Turuine (rio Sete de Setembro), reunir índios
de todo o jeito, mansos, bravos, para distribuir armas. O primeiro a aparecer
foi o Kuikúru que tomou o arco branco. Daí em diante os Kuikúru e todos os
seus parentes usam arco deste tipo.
Depois apareceu outro índio, que
pegou arco de madeira escura. Finalmente apareceu outro, que pegou a arma de
fogo. Feito isso, Avinhocá mostrou uma pequena lagoa e mandou todos se banharem
ali. Como a lagoa tinha muita piranha, jacaré, cobras, etc., os índios ficaram
com medo, o que faz Avinhocá ficar zangado. Os índios molharam só as mãos e
correram a enxugá-las num tronco de árvore. Essa árvore ficou com a casca
branca, é o pau-de-leite. Um mais corajoso, obedeceu a Avinhocá e atirou-se na
lagoa, adquirindo de imediato a cor branca. Esse é o civilizado que pegou a
arma de fogo. Neste instante uma árvore gritou lá de dentro da mata e os
índios responderam.
Avinhocá
predisse: "As árvores morrerão um dia e os índios também
desaparecerão".
O
civilizado respondeu o grito e daí Avinhocá disse:
"A
pedra nunca morrerá e, portanto, os caraíbas nunca desaparecerão".
SERÁ???
TACAPE, BORDUNA, MACHADINHA..
O Tacape, é um pesado porrete, que,
manejado com destreza, servia para medir a força do seu possuidor. Os que se
vangloriavam das suas sólidas musculaturas, brandiam tacapes que eram
verdadeiros troncos de árvores. Esta é uma arma contundente, isto é, atua por
esmagamento. Os guaicurús, atiravam-na a distância com a idéia de quebrar as
pernas das vítimas.
Parte importante da cultura bélica indígena, a borduna não era uma
ferramenta de uso diário como o arco e flecha, se destinando unicamente para a
guerra. A borduna nada mais era do que uma clava – um pau pesado em uma
extremidade, que causava danos pelo impacto direto. As formas dessa arma
(comprimento, peso, forma, decoração, etc) – e até os nomes (borduna, manacã,
tangapema, ivirapema, tacape, etc), variam de grupo indígena para grupo
indígena. Encontramos registro de uso de machados ou de espadas (bordunas
com bordos cortantes, feitos de peças de sílex ou quartzo) em combates no
Brasil, apesar dos machados serem ferramentas de uso diário.
O
Machadinho de Pedra é fabricado e colocado a venda como transmissão cultural.
Entretanto, já foi usado como arma de luta para conter a invasão do homem
branco. É também uma ferramenta providencial utilizada pelos guaranis para
derrubar árvores e trabalhar madeira. Tal como o demonstram o "petyguá"
de nó de pinho e o banco cerimonial "apyká".
Segundo
Roque A. González Menoret da
Associação Nhandeva em Paraty, descendente de Guaranis, "o machado
tradicional deles consiste numa lâmina, ao ponto que ficam firmemente
ensamblados. Fabrica-se desse modo um sólido machado."

AS
AZAGAIAS e AS LANÇAS

As
Azagaias, são
mais conhecidas como "dardos" e são armas curtas de arremesso, que
substituíram o arco e flecha em algumas tribos do Amazonas. A azagaia é um
instrumento cortocontundente.
As
lanças tiveram um uso restrito no Brasil. Elas são armas perfurantes que eram
usadas pelo índio tanto a pé, quanto a cavalo. A borduna e a lança eram
confeccionadas em massaranduba (Manilkara aff. bidentata, subespécie
surinamensis), grupo de madeiras das mais exploradas para fins comerciais
por sua durabilidade natural.

SARABATANA

A
sarabatana é uma arma que atesta um grau de cultura bastante avançado das
tribos que a usavam. Era fabricada com a estipe da palmeira paxiuba-y. Constava
de um longo canudo com um bocal, por onde eram introduzidas pequenas setas
embebidas em ervas como "curare".
O
"curare" é um potente veneno, manipulado com a mistura de várias
ervas, que quando em contato com a corrente sangüínea das vítimas, provoca
paralisia seguida de óbito instantâneo. O interior da sarabatana é oco e
estriado. O índio após introduzir a seta no tubo, soprava fortemente pelo
bocal.
Não há dúvida, que o alcance
desta arma é muito reduzido, contudo, a engenhosidade com que foi arquitetada
é enorme. Segundo pesquisas compulsadas, somente os "omagazes" e os
"mudurucus" sabiam manejá-la.
Além destas clássicas armas, em
tempo de guerra, a surpresa e o ardil foram explorados com sucesso no meio
indígena, podendo-se afirmar que a luta desassombrada frente a frente, não
entrava em cogitação nas maquinações guerreiras. O plano de assalto a uma
aldeia era estudado com muita antecedência e assentado com todas as minúcias.
Com cautela os assaltantes aproximavam-se da aldeia adversária e, como não
tendo uma capacidade bélica igual ao do homem branco, por vezes, rugiam como
tigres ou berravam como loucos na certeza absoluta de que o efeito moral fosse
eficaz e vencedor à da força material.

Bibliografia consultada
Índios do Brasil -
Lima Figueiredo. Liv. José Olympio Editora
Indiologia - Angione
Costa. Zélio Valverde. Rio - 1943
Mito e Vida dos
Indios Caiapós - Anton Lukesch. Biblioteca Pioneira de Estudos Brasileiros
A Organização
Social dos Tupinambá - Florestan Fernandes
Brasil, Histórias,
Costumes e Lendas. Editora Três
rudolfoschierz@hotmail.com



|