ORIGEM DO SOL E DA LUA
(ÍNDIOS CAUAIUA/PARINTINTIN/VALE
DO RIO MADEIRA/AM)
Baíra foi quem criou o Sol
e a Lua.
O Sol é homem.
A Lua é mulher.
Baíra fez o membro do Sol
da raiz da paxiúba.
E fez da raiz do apuizeiro
uma veia que pôs no sexo da Lua.
Dessa veia saía sangue.
E levou os dois para o céu.
O Sol, porque é homem, sai
de dia.
A Lua, porque é mulher, sai
de noite.
Os homens, na terra, são
como Sol.
As mulheres são como a Lua.

Foi Curt Nimuendaju em
1923, o primeiro a fazer contato com a tribo guerreira dos Parintintin e os
descrevia da seguinte forma:
-"Ao todo a maioria desses
rostos é regularmente bonita com os seus traços firmes e a expressão agradável e
inteligente. Havia fisionomias atrevidas, mas não ferozes e brutais. Nunca vi um
Parintintin, francamente feio, e, em relação ao seu físico, esses índios
pertencem aos mais simpáticos que conheço."
Os Parintintim viviam entre
o rio Madeira e seus afluentes, Marmelos e Machado e tornaram-se, na infância de
nossa história, o flagelo da população civilizada. Nas suas correrias anuais,
esses indígenas derramaram terror, morte, saque, incêndios no meio do
civilizado. Esses, em contrapartida, em represália, sempre se comportavam pior
que seus adversários selvagens. Foi, inclusive, pensado em exigir-se seu total
extermínio. Açularam contra eles seus velhos inimigos, os Mundurucu, mas apesar
de todas as estratagemas, a força guerreira dessa valente tribo não diminuiu.
Foi então, cogitada a sua pacificação, que foi confiada a Curt Nimuendaju, então
funcionário do S.P.I., que foi aliás, uma escolha acertadíssima. Entretanto, em
17 de janeiro de 1923, sem recursos para concluir seu trabalho, foi dispensado.
Os índios Parintintin foram posteriormente
conduzidos a "Três Casas", um seringal de propriedade de Manuel Sousa Lobo onde
assentaram-se. Durante esse movimento foram acometidos de pneumonia e paludismo,
ocorrendo inúmeras mortes.
Os parintintin, segundo a sua mitologia,
tratava-se de um povo tangido do litoral atlântico que embrenhou-se na Amazônia,
em fuga à sanha dos conquistadores lusos, franceses e holandeses.
Hoje, esse povo indígena,
constituídos por apenas duas centenas de indivíduos, habitam duas reservas
contíguas nos rios Ipixuna e Nove de Janeiro, afluentes do Rio Madeira nos
municípios de Auxiliadora e Humaitá (AM). Vivem do abate de árvores, para o
comércio de madeiras, comercializam castanhas, sacrificam os animais silvestres
para as indústrias, sempre acompanhado no seu destino, de decepções e esperanças
de um dia melhor, destino também do próprio Estado do Amazonas.

Bonitos, guerreiros
sensuais, libidinosos, românticos, inteligentes e irônicos, todos esses aspectos
são comprovados quando se obtêm contato com seus mitos e lendas.
Na lenda da origem do Sol e
da Lua, é obtida uma visão simbólica do masculino/feminino. Sol e Lua, foram e
ainda são, os adjetivos utilizados para denotar os pólos de uma unidade
psicológica complexa. O Sol, por sua luz brilhante, estabelece uma relação
perfeita com o princípio masculino, a razão. O masculino é censor, regulador,
repressor, discriminador, racional, penetrante, organizador, valores que foram
implantados e esculpidos pelas mãos de uma longa tradição coletiva. É o Sol que
nos desperta da noite da inconsciência para a vida consciente.
O Sol então, nada mais é do
que um arquétipo que estabelece padrões básicos de comportamento humano, que
embora não funcione de maneira exatamente igual à todas as pessoas, existem pelo
menos indícios dos mesmos em cada ser humano.
Já a Lua nos traz outros
tipos de de valores que brotam do inconsciente, da natureza e do instinto. Esse
astro, está associado a intuição, que não segue parâmetros lógicos. A Lua, como
símbolo feminino é obscura, inexata, imprevisível, irregular, irracional,
atemporal, valores que se manifestam via inconsciente, em sonhos, complexos,
eventos espontâneos, anseios instintivos, e ainda através das inibições que se
encerram nesses anseios.
O Sol e a Lua, como homem e
mulher, formariam o casal cósmico que agenciariam a mudança e transformação da
vida, pois embora pareçam tão diferentes, são na verdade complementares e ao
somarem-se é alcançado o equilíbrio.
Toda a unilateralidade é
perigosa. A consciência solar solitária, é um atributo fortemente negativo, pois
pode assumir a forma ou a atitude de um tirano primitivo e com seus raios
fustigantes de reprovação pode ressecar ou assassinar o ego. A consciência lunar
também contém facetas malévolas. A Lua, tem suas fases e, na escura inflige um
grande temor, pois nos causa uma alienação ou desagregação que nossa própria
natureza, nos causando sintomas psicossomáticos e até mesmo enfermidades.
Só a alternância da
consciência SOL/LUA nos proporciona a totalidade, ou seja, é através do embate
dessas polaridades no seio de nossa consciência, que somos forçados a encarar e
admitir o mistério do que significa ser plenamente humano.
Esses conceitos de
"consciência solar" e "consciência lunar" são bastante conhecidos pela
psicologia da atualidade, mas já eram percebidos e mencionados na mitologia
indígena.
Assim como o Sol e a Lua, o
homem e a mulher encontram várias formas de se relacionar, sem desrespeitar suas
diferenças. A aceitação das diferenças é a condição básica para um
relacionamento criativo.
Texto pesquisado e
desenvolvido por

ROSANE VOLPATTO

 
|