~*~CHICOMECOATL-XILONEN, A DEUSA MAIS ANTIGA~*~

 

CHICOMECOATL-XILONEN, A DEUSA MAIS ANTIGA

 

             

 

 

Chicomecoatl, a "Mãe do Milho" e dos gêneros alimentícios é tida como a divindade mais antiga da América. Seu nome é traduzido como "sete serpentes". As cerimônias dedicadas à esta Deusa são comemoradas no mês Huei Tozoztli e seus templos são então, decorados com milho e as sementes depositadas nele são abençoadas.

 

Ela é também a Deusa da volúpia e do pecado e que gera e renova a vegetação através do ato sexual. É portanto, uma Deusa da fertilidade que inclui a Terra como os seres humanos. É freqüentemente retratada com o rosto pintado de vermelho e com espigas de milho presas nas orelhas. Dizem que ela é a irmã do deus da chuva, Tlaloc.

                         

Ela traz consigo a caveira, e a vítima feminina do sacrifício feito em sua louvação é decapitada. Como aspecto invernal da terra letal, ela coloca-se em oposição à terra fecunda, que está associada ao Oriente e à primavera. Com seu traje de serpentes, ela empunha a faca de silex e possui as garras de jaguar, animal que é inimigo arquetípico da luz, considerado atributo negativo masculino e companheiro do Feminino Terrível que como Grande Mãe, traja o manto da noite com as luas.

 

O jaguar era o Senhor das montanhas e das cavernas, do eco, dos animais selvagens, dos tambores de chamadas, da escuridão devoradora e do céu noturno. Existe um mito em que a unidade de terra e céu noturno se divide, significando que a unidade original dos primórdios é diferenciada. A Deusa terra é trazida para baixo, vindo do céu primordial e é desmembrada. É em função deste desmebramento que ela passa a ser origem de todos os víveres.

 

O jaguar, deus do número Nove, que é a expressão das regiões "inferiores",  senhor da escuridão é o inimigo da águia, o símbolo solar e as lutas míticas entre luz e trevas que compõe o mundo asteca é visto nas batalhas entre os guerreiros-jaguares contra os guerreiros-águias. A águia pode ser considerada a substituta do Sol (ela é a única que pode olhar para o astro, sem dano aos olhos), do fogo celeste e da mais alta divindade urânica.

A terra é representada na forma de uma boca de jaguar devorando o Sol no crepúsculo, portanto a terra representava o monstro insaciável que não só devora os mortos, mas também arrasta para as profundezas o Sol e as Estrelas.  

 

Chicomecoatl, como Deusa Mãe Terra não possui tão somente um caráter bondoso, por vezes, como constatamos, ela irá incorpora a Mãe Terrível. Conta-se que ela bradava durante a noite clamando por corações quentes. Não se acalmava enquanto estes não lhe fossem trazidos e se recusava a fertilizar a terra enquanto não estivesse encharcada de sangue humano.

 

UMA QUE É TRÊS

 

Se apresentava em três manifestações: uma jovem levando flores, uma mãe que usa o sol como escudo e uma mulher cujo abraço produz a morte.

Também tinha três nomes: um era Chicomecóath, o outro era Chalchiuhtlicue, que quer dizer "pedra preciosa ou esmeralda" (ver http://rosanevolpatto.com.br/deusachalchiuhtlicue.html), por ser escolhida entre todas as mulheres e Xilonen, que quer dizer "a que foi e andou delicada e terna, como a espiga tenra e fresca."

 

 

XILONEN

 

 

Como Xilonen é a representação da jovem virgem relacionada com a fertilidade. É a lua crescente, que apesar de ser fecundada pelo sol se mantinha imaculada. Considerada ainda, a padroeira das donzelas do México Antigo, que a veneravam e se ataviavam à seu estilo para tornarem-se o objeto das doces e tentadoras palavras dos jovens solteiros.

 

Xilonen era como o resto das deidades meso-americanas, possuía um caráter caprichoso já que podia favorecer ou causar mal aos seres humanos. Não era totalmente boa ou má e por isso os homens tinham que buscar seus benefícios.

 

 

É possível que as parteiras celebrassem também a Deusa Xilonen como indica o frei Diego Duran em sua "História das índias da Nova Espanha e Ilhas da Terra Firme, Tomo II". Essas mulheres levavam uma jovem ataviada como a Deusa ao cume do cerro de Chapultepec. Uma vez ali, ordenavam à donzela que se dirigi-se ao templo de Xilonen, onde devia dançar por algum tempo e se não estivesse muito animada, davam-lhe bebida para alegrá-la e entorpecê-la. Acabado esse ritual, a sacrificavam. Aqui se concede uma estreita ligação de Xilonen com a lua, pois o ritual se iniciava em um lugar acima de Chapultapec, que constituía uma via de acesso com o astro noturno.

Hueytecuihutli (de 22 de junho à 11 de julho) era o mês do sacrifício da mulher ataviada com os atributos da Xilonen.

 

 

O milho, em sua complexidade era considerado o chefe dos cosmos, ponto de encontro entre o céu, a terra e a região dos mortos. Era o alimento fundamental, o sustento da humanidade e a base da economia meso-americana. Xilonen, divindade da espiga tenra e fresca, era contraparte dessa energia vital que possibilitava a existência terrestre. Essa Deusa encarna o milho e os agricultores, compatilhando assim, um mesmo destino no espaço dos seres mundanos.

 

 

OS SACRIFÍCIOS HUMANOS

 

 

Os antigos mexicanos viveram em um mundo extraordinariamente inseguro regido por poderes desconhecidos. Ante a impossibilidade de estabelecer comunicação normal com essas poderosas forças, tentaram exercer influências sobre elas recorrendo a aplicação de esquemas de interpretação. Nesse sentido, nada pode subtrair-se da lógica da compreensão do mundo.

 

O rituais encontraram especialmente aplicação dos esquemas que permitiam entender os ciclos da natureza como fenômenos ameaçados pelo repouso eterno. Porém, o sacrifício resulta sobretudo, daqueles esquemas que interpretam os fenômenos semelhantes da realidade como manifestações externas da mesma força originária. As idéias míticas de causalidade, sustentadas na identidade entre a origem e as características, e o estabelecimento das unidades míticas conduzem ao convencimento de que o derramamento e o oferecimento de sangue é um instrumento efetivo para colocar em movimento a origem do fenômeno regenerativo: a fertilidade, a brotação do milho, a chuva, etc.

 

Alimentar os deuses, proporcionar-lhes  a energia que necessitavam para manter o equilíbrio e a continuidade do mundo era a idéia que se subtrai da execução dos sacrifícios humanos.

 

 

CONCEPÇÃO CONSCIENTE DO MUNDO E A MULHER-SERPENTE

 

Entre os astecas, a concepção consciente do mundo é patriarcal. O poder da divindade feminina tornou-se quase imperceptível e o princípio masculino da luz do sol é dominante. Entretanto, uma análise precisa, sob o ponto de vista psicológico, proporciona uma imagem inteiramente nova.

 

Lado a lado com o rei governa uma figura que embora sempre personificada por um homem, leva o nome da Mãe Terra em seu aspecto terrível: é a "Mulher Serpente". Sobre ela se fala:

 

"A mulher-serpente era o árbitro principal das questões internas da tribo, onde os costumes civis e a exigência religiosa governavam praticamente toda ação."

"Ao Chefe dos Homens e à Mulher-Serpente" cabiam obrigações duplas, no tocante às atividades civis e religiosas: o primeiro conduzia ativamente os serviços, e a segunda supervisionava os templos, a conduta adotada nos ritos e os afazeres e assuntos do clero".

 

Aqui fica esclarecido que esta sociedade era indiscutivelmente matriarcal e que foi sobreposta por instituições patriarcais. A análise dessa questão é extremamente elucidativa para a história do desenvolvimento humano. Particularmente, na cultura asteca podemos concluir que originalmente, os homens estavam a serviço de uma divindade feminina e os guerreiros eram incumbidos de provê-la com sacrifícios de sangue. Posteriormente, o princípio solar patriarcal substituiu o princípio lunar matriarcal.

 

Toda a política asteca era orientada pelas guerras, realizadas com o objetivo de fazerem-se prisioneiros que seriam sacrificados, servindo ao culto da Mulher-Serpente, a qual só garantia a fertilidade depois de saciada pelos medonhos sacrifícios de sangue que lhes eram oferecidos.

 

A atrocidade dos ritos mexicanos, cuja intenção era garantir a fertilidade da terra, mas também manter a estrutura da vida solar, consciente, masculina, demonstra o terror que a consciência masculina sentia de ser novamente tragada pelo lado obscuro, feminino, noturno do inconsciente.

 

A forma característica de sacrifício adotada pelos astecas consistia em arrancar o coração do corpo da vítima ainda viva, e oferecê-lo ao sol, a fim de garantir a chuva fecundante e, com ela, a fertilidade da terra. Em outro tipo de sacrifício, fazia-se o esfolamento da vítima; os sacerdotes se vestiam com essa pele, numa forma típica do simbolismo da transformação. Entre eles era comum uma outra modalidade de sacrifício que consistia no degolamento. A morte por esquartejamento e pela decapitação são oriundas, como no Egito, de um estrato matriarcal ultrapassado, cujos vestígios ainda podem ser detectados no mito asteca e nos seus ritos, por exemplo no "circuito austral do inferno", em que ainda se praticam degolamento e o desmembramento.

 

A primeira façanha do deus-herói Huitzilopochtli foi o degolamento da Deusa Irmã-Lua má. A decapitação da vítima feminina ocupa lugar de maior destaque do festival de primavera da Deusa Serpente do Mundo Inferior e no final da festa-batalha de sacrifícios é realizada uma dança com as cabeças das vítimas dos prisioneiros de batalha, capturados pelos gladiadores.

 

 

 

Texto pesquisado e desenvolvido por

 

ROSANE VOLPATTO

 

 

Bibliografia:

 

A Grande Mãe - Erich Neumann