DEUSA
INANNA

Fui até lá
de livre vontade
Fui até lá
com meu vestido mais lindo
minhas jóias mais preciosas
e minha coroa de Rainha do
Céu
No Inferno
diante de cada um dos sete
portões
fui desnuda sete vezes
de tudo o que pensava ser
até que fiquei nua daquilo
que de fato sou
Então eu a vi
Ela era enorme e escura e
peluda e cheirava mal
tinha cabeça de leoa
e patas de leoa
e devorava tudo que
estivesse à sua frente
Ereshkigal, minha irmã
Ela é tudo o que eu não sou
Tudo o que eu escondi
Tudo o que eu enterrei
Ela é o que eu neguei
Ereshkigal, minha irmã
Ereshkigal, minha sombra
Ereshkigal, meu eu

Inanna era a Deusa da
Suméria responsável pela reprodução e fecundidade, prolongamento da tradição das
"Deusas-Mães" atávicas. Foi identificada em Afrodite, Ísis, Isthar (seu nome
babilônio),etc. Ela era a rainha do 7 Templos, padroeira da vila de Uruk e a
portadora das Leis Sagradas (Me).
O sonho dos sumérios era
transformar a terra seca de Suméria em algo parecido ao jardim paradisíaco de
Dilmun. Temiam tanto a inundação como a seca. A cada ano, a temporada de seca
ameaçava converter em um deserto ressecado, que era como os sumérios imaginavam
o inferno.
A contribuição mais
importante dos sumérios foi a invenção e criação de uma escrita e conseqüente
literatura. Seus trabalhos revelam sua identidade religiosa, idéias éticas e
suas inspirações espirituais. Entre estes trabalhos estão os "hymns"e as
histórias de Inanna.
Inanna foi casada com o
pastor mortal Damuzzi, que o transformou em rei. Esta união fez com que a terra
prosperasse e a fertilidade reinasse. Cada ano novo, o rei de Uruk e a
sacerdotisa superior de Inanna, a Senhora do Céu, reconstruíam a boda entre o
pastor e a Deusa. Se acreditava que isso assegurava a fertilidade da terra para
esse ano.
A morte anual de Damuzzi se
celebrava com ritos de luto. O espetáculo de mulheres chorando por ele se
menciona na Bíblia em Ezequiel 8:14.
Como a maioria dos mitos
sumérios, o de Inanna e Dumuzzi sobreviveu à extinção da Suméria. Em 1750 a.C.,
Hammurabi, rei da Babilônia, se converteu no único soberano da antiga suméria.
Os babilônios absorveram grande parte da cultura suméria, incluindo a mitologia.

VISITA DE INANNA AO DEUS ENKI
Inanna, certa vez, tomou a
iniciativa de fazer uma visita ao deus da sabedoria, que morava no Abzu, o céu
dos deuses sumérios, a morada deles. Tinha como propósito honrá-lo e lhe
proclamou uma oração. Enki era o deus sumério que conhecia as leis do céu e da
terra, o coração dos deuses, assim como todas as coisas.
Enki mandou preparar uma
bela acolhida para Inanna: bolo, água fresca e cerveja. Mas o encontro, que
deveria ser prazeroso torna-se um tormento quando os dois embebedam-se, perdendo
a medida do que estavam fazendo. O deus da sabedoria acabou perdendo sua
sabedoria, enfeitiçado com os encantos de Inanna. Tornou-a então, sacerdotisa, a
intermediária oficial capaz de render o culto certo aos deuses. Enki lhe diz a
seguir que ela teria a possibilidade de descer aos infernos e voltar, portanto
iria conhecer a realidade da vida e da morte, um conhecimento muito profundo. É
o trânsito entre o mundo inferior e superior, entre a vida e a morte, entre o
céu e a terra, entre o homem e a mulher que nos leva à grande Verdade.
Enki levantou levantou
quatorze vezes o cálice para Inanna, dando-lhe cada vez mais dons sagrados,
conhecidos como "me". Quatorze não é um número qualquer. Encontramo-lo nas
quatorze portas, sete para descer e sete para subir, que Inanna terá de transpor
na sua descida aos infernos e sua subida de lá. Quatorze foram os pedaços em que
foi desmembrado o corpo de Osíris no Egito Antigo e que Ísis teve de
reencontrar. Quatorze parece ter a ver com etapas de qualquer processo de
iniciação profunda. Aqui, no caso de Inanna e Enki, seriam talvez as etapas do
processo civilizatório do povo de Uruk, para que vivesse como um povo
civilizado, dentro de uma cidade cuja economia estava principalmente baseada na
agricultura.

Inanna reinava sobre tudo, determinava a maneira de vestir,
falar, viver a sexualidade, de se comunicar e de trabalhar.
Ela estava presente em
tudo, na arte, na prostituição, na taverna sagrada, na falsidade, no medo. Era
também protetora de todo o trabalho artesão. Era a Rainha e a alma de tudo que
se vivia de bom ou ruim.
Os dons vinham do céu, dos deuses, mas somente ela iria
levá-los para os seres humanos e mostrar-lhes a arte de usá-los de modo
adequado. Aqui percebe-se claramente que estamos diante do matriarcado, pois é
uma mulher que é a sacerdotisa suprema, a que é capaz de re-ligar o mundo dos
deuses com os seres humanos e vice-versa.

DEUSA LUNAR
É também chamada de
"Estrela do Amanhecer e do Anoitecer", simbolizando a morte e o renascimento.
Neste aspecto tomava o nome de Ninsianna, encarnado uma Deusa que conduzia os
homens à evolução e ao crescimento da civilização, quando "Estrela do Amanhecer";
e como Deusa da Estrela do Anoitecer, estava diretamente associada às
prostitutas sagradas e julgar o que era injusto.
Já como Deusa da Lua,
encontramos sua representação na Lua Crescente. Como Deusa Fertilizadora e Deusa
dos grãos era honrada com pães feitos de trigo, vinho, cerveja e tâmaras. Também
foi associada aos animais selvagens e domésticos como o carneiro e a vaca.
Inanna é a Rainha do Céu.
Ela pode acolher todas as criaturas sob o seu manto brilhante. É Ela que gera as
constelações. A estrela da noite forma seu trono. Quando se instala sobre ele,
fica no campo cinza dos oito raios brilhantes sobre o crescente da lua.

DESCIDA AO SUB-MUNDO

Inanna era a Rainha do Céu
e da Terra, mas não sabe nada do submundo e sua missão agora é desvendar seus
segredos. Ela descerá para presenciar os rituais de sepultamento de Gugalana
(grande touro do céu), marido de sua irmã-avó Ninlil-Ereshkigal, Rainha do
Submundo que reinava sobre os sete infernos dos submundos médio-orientais.
Inanna deveria testemunhar de modo presente a sombra reprimida do Deus celeste,
o fato dele ter sido um estuprador e por isso mandado para o mundo subterrâneo
como castigo.
Mas Inanna prepara uma
estratégia de resgate, caso ela não retornasse da jornada em três dias. A Deusa
já pressentia que precisaria de ajuda e confia o seu salvamento à Ninshubur, sua
executiva de confiança. Inanna havia pedido para pedir ajuda ao deus celeste
Enlil, o pai supremo universal, depois a Nanna-Sin, seu pai pessoal e deus lunar
e, finalmente, até Enki.

Haviam sete portais que
Inanna deveria cruzar rumo ao seu objetivo final. Em cada uma destas portas se
vê despojada de seus instrumentos de poder, desde sua coroa até suas vestes. No
sétimo e último portal,
totalmente nua encontra-se
com Ereshkigal, sua irmã e rival. A retirada de todos seus pertences se faziam
necessário, porque o "ego" tentaria se defender com todos os seus poderes
conscientes.
A coroa de Inanna, por
exemplo, significava o seu poder intelectual. Suas jóias e adornos, simbolizavam
seu poder de agir e a sua habilidade crítica de julgar. As suas vestes reais,
seriam as defesas de seu psique e uma das formas de proteção contra tudo e
todos.
Totalmente nua, seria a única forma com que Inanna poderia se relacionar
com sua sombra. Neste estado vulnerável, Inanna enfrenta sua irmã (sua sombra),
é presa e crucificada num poste do mundo inferior, constituindo-se numa imagem
de divindade feminina agonizante. Como qualquer iniciada, ela se rende
corajosamente ao próprio sacrifício, para ganhar nova força e conhecimento. Como
a semente que morre para renascer, a Deusa se submete.

Sozinha e na escuridão,
Inanna decompõe-se. Mas nem tudo está perdido, esta experiência e a aceitação de
sua vulnerabilidade, a descoberta da necessidade do sacrifício e da morte para
que os ciclos da vida se perpetuem, aumentam o poder de Inanna, assim como sua
compreensão e beleza. Inanna oferece-se em sacrifício, testemunha a morte das
forças férteis e traz a si mesma como semente. E de sua imolação voluntária
depende a continuidade da criação. A idéia fundamental é de que a vida só pode
nascer do sacrifício de outra vida.
É Ninshubur que dá o alarme
depois que Inanna se ausenta por mais de três dias, conclamando mulheres e
homens e pedindo a intercessão dos deuses celestes em favor da Deusa. Ambos os
deuses, o celeste e o lunar, recusam-se ou não ousam resgatar Inanna do local de
estagnação do Mundo Inferior.
É somente de Enki que
receberá ajuda. Ele é o deus da sabedoria, que mora no
fundo do abismo. Em vários mitos ele aparece ao lado de Inanna. Da sujeira que
estava embaixo das suas unhas pintadas de vermelho de uma de suas mãos ele cria
Kurgarra e da sujeira da outra, Kulatur. Eles são descritos como "devotos
assexuados" ou criaturas nem macho nem fêmea. Estas criaturas, representam a
atitude fundamental para atrair as bençãos da Deusa Escura.

Quando tais criaturas
chegam ao Submundo para resgatar Inanna encontram Ereshkigal com dores de parto
sofrendo terrivelmente. Os carpidores de Enki aproximam-se da Deusa, vendo e
sentindo o seu sofrimento, lamentando com Ereshkigal.
Quando ela diz:
-"Ai, está doendo dentro de
mim!"
Eles respondem:
-"Ai! Tu que gemes, nossa
Rainha. Ai! Está doendo dentro de ti!"
Quando ela diz:
-"Ai, está doendo fora de
mim."

Eles ecoam:
-"Ai! tu que gemes, nossa
Rainha. Ai! Está doendo fora de ti".
O eco compõe uma litania,
transforma a dor em oração e poesia.
A miséria escura da vida se transforma em
canção da Deusa. Estabelece a arte como uma resposta solidária, reverente e criativa às paixões e dores da vida. O que agora jorra de Ereshkigal não é mais
destruição, mas generosidade.
Ereshkigal, grata pela
ajuda das criaturas, resolve recompensá-los. Eles pedem o corpo de Inanna que
está pendurado e ela entrega-o. Inanna está transformada, generosa e benéfica.
Deu-se um milagre pelo seu sacrifício e por Enki ter tomado a atitude adequada. A
fertilidade do touro do céu que havia morrido renasce no útero sombrio. Inanna é
reintegrada na vida ativa entretanto, ela volta dentro de uma atmosfera
demoníaca, pois está rodeada pelos pequenos demônios impiedosos de Ereshkigal,
cuja tarefa é reivindicar os mortos. Eles devem exigir um substituto para
levarem ao mundo subterrâneo e Inanna retorna com seus próprios "olhos de morte"
para escolher o bode expiatória
Descobre então, que Damuzzi
(seu marido), em sua ausência usurpara-lhe o lugar no trono do céu. Ficou
colérica e permitindo que os demônios lhe prendessem e o levassem. Depois sentiu
pena dele e apelou a Ereshkigal para que o liberassem. Entretanto, lhe foi
permitido tão somente uma troca e Geshtinana (Deusa dos caniços de papiro), a
irmã de Damuzzi se oferece para alternar com ele a permanência no reino de
baixo. Ela atuará como um apoio para a dimensão do sofrimento do irmão.

Assim,
durante o outono e inverno, Damuzzi permanece no inferno e as colheitas não se
reproduzem, enquanto que na primavera e verão, ele sai da terra para participar
do reino de cima e a colheita é farta.
Esta é a origem da
celebração do ano sumeriano.
O mito da descida e retorno
de Inanna está centrado no arquétipo do intercâmbio de energia através do
sacrifício. Ele revela uma complexidade: o touro celeste é morto e a terra perde
então seu princípio fecundador, mas é recompensada pela amolação da Deusa
Inanna, que torna-se a carne do submundo, seu alimento e fertilizante apodrecido
que, em troca, é resgatado a partir das origens de Enki.

A ascensão da Deusa
deve ser paga pelo nascimento de alguma coisa monstruosa das entranhas de Ereshkigal, pelo sofrimento e, finalmente, pela descida de uma oferenda
substitutiva.
Em seu aspecto benéfico,
Ereshkigal podia permitir aos humanos a retirada de riquezas de seu reino como:
pedras preciosas, metais e petróleo, mas não antes de ser devidamente honrada.
Como aspecto de Anciã da deusa e irmã de Inanna, Ereshkigal regia a magia negra,
a vingança, a retribuição, as Luas Minguante e Nova, a morte, a destruição e a
regeneração.
Inanna marcha com
determinação para o mundo inferior, indo de maneira ativa e consciente para o
auto-sacrifício. É assim que a mulher moderna tem que aquiescer e cooperar na
introversão e regressão necessárias ao mundo subterrâneo, o mundo dos níveis
arcaicos e mágicos da consciência.

Deve descer para encontrar seus começos
instintivos e encarar a face da Grande Deusa, e a sua própria antes de ter
despertado para a consciência. Deve ir até a matriz das energias transpessoais
antes de elas terem sido liberadas e tornadas aceitáveis. É o sacrifício do que
está em cima em favor do que está embaixo.
A Terra e o Mundo
Subterrâneo vistos como uma descida, e também como um processo de transformação,
não apenas correspondem à experiência de muitos indivíduos em processo de
individualização, mas ainda, pode demonstrar que se trata de um evento coletivo
da cultura moderna como um todo.

SACERDOTISA ENHEDUANA
Como já descrevemos
anteriormente, a Deusa Inanna, oriunda da antiga civilização da Suméria, em sua
beleza celestial, era venerada como Deusa da Lua. O primeiros trabalhos a serem
escritos e preservados sobre essa Deusa eram de autoria de Enheduana, nascida em
2.300 a. C, uma sacerdotisa da Deusa Lua.
Seus escritos em forma de
poesia, assemelham-se mais a um diário pessoal, repleto de adoração à Deusa da
Lua, de sublevações políticas, de sua expulsão do templo e de seu retorno a ele.
Escreve com sensualidade e intimidade sobre a Deusa do Amor Inanna.
Eis algumas de suas
palavras sobre a imagem da Deusa Inanna e das essências divinas:
"Senhora de todas as
essências, cheia de luz,
Boa mulher, vestida de
esplendor,
Que possui o amor do céu e
da terra,
Amiga do templo de An,
Tu usas adornos
maravilhosos,
Tu desejas a tiara da alta
sacerdotisa
Cujas mãos seguram as sete
essências.
Ó minha Senhora, guardiã de
todas as boas essências,
Tu as reuniste e as fizeste
emanar de tuas mãos.
Tu colheste as essências
santas e as trazes contigo,
Apertadas em teus seios."

Enheduana também
experimenta poderosa cólera e fúria para com a Deusa do Amor, a Deusa da Lua em
sua fase negra:
"Como dragão, encheste a
terra com veneno.
Como trovão, quando bradas
sobre a terra,
Árvores e plantas caem
diante de ti.
És o dilúvio descendo da
montanha,
Ó Deusa Primeira,
Inanna, Deusa da Lua, que
reina sobre o céu e a terra!
Teu fogo espalha-se e cai
sobre a nossa nação.
Senhora montada numa fera,
An te dá qualidades,
poderes sagrados,
E tu decides.
Estás em todos nossos
grandes ritos.
Quem pode compreender-te?"

Quando um novo governante (Lugalanae)
assumiu o poder, mudou todos os rituais sagrados. A sacerdotisa Enheduana foi
banida do templo e escreve então sobre seu desespero de tal perda:
"Tu pediste-me para entrar
no claustro santo, o"giparu",
E eu entrei nele, eu, a
alta sacerdotisa Enheduana!
Eu carreguei a cesta do
ritual e cantei em seu louvor.
Agora encontro-me banida,
em meio aos leprosos.
Nem mesmo eu consigo viver
contigo.
Sombras penetram a luz do
dia,
A luz escurece à minha
volta,
Cobrindo o dia com
tempestades de areia.
Minha suave boca de mel
torna-se repentinamente confusa.
Minha linda face agora é
pó."

Mas Enheduana logo em
seguida, retorna à sua condição inicial, e recupera novamente a alegria, a
beleza e o relacionamento com a Deusa:
"A Primeira Senhora da sala
do trono,
Aceitou a canção de
Enheduana.
Inanna a ama novamente.
O dia foi bom para
Enheduana, pois ela vestiu-se de jóias.
Ela vestiu-se com a beleza
própria das mulheres.
Como os primeiros raios do
luar sobre o horizonte,
Quão exuberante ela se
vestiu!
Quando Nana, pai de Inanna,
fez sua aparição,
O palácio abençoou Ningal,
mãe de Inanna.
Da soleira da porta celeste
veio a palavra:
"Bem-vinda!".

Os escritos de Enheduana
são muito importantes, pois trazem à luz a profunda devoção de uma mulher
humana, sacerdotisa, à Deusa do Amor. Enheduana vive sua beleza e sensualidade
como dádivas concedidas pela Deusa. No momento em que ela não pode mais
venerá-la no templo, sente o vazio obscuro e sombrio, e sua própria imagem da
Deusa, sua radiante beleza feminina fica encoberta.
Através da fantasia poética
de Enheduana e de seus relatos históricos sobre a Deusa Inanna, podemos entender
com mais clareza o significado dos rituais religiosos em que ela era a figura
mais importante e decisiva. Ainda assim, Inanna permanece um mistério, em grande
parte porque a nossa atitude moderna torna mais difícil para nós agarrarmo-nos
àquilo que vemos como paradoxo em sua imagem: sua natureza sexual era um aspecto
integral de sua natureza espiritual. Para a maioria de nós, tal conjunção é uma
contradição. Nos tempos antigos, no entanto, era unidade.

INANNA HOJE
No ciclo de Inanna há a
criação, a reprodução e a destruição. A força da Deusa reside na
capacidade de desistir daquilo que há de mais precioso, a fim de garantir
crescimento e regeneração, a transformação só pode ocorrer quando atitudes e
valores antigos são substituídos por novos.
Quando ocorre em nossa vida
a ruptura de um relacionamento e se tenta iludir-se com o retorno do parceiro, a
vida pára. Até para que uma relação persista, antigas expectativas devem ser
sacrificadas para o bem do desenvolvimento psicológico de cada indivíduo. A
morte e o pranto têm pelo menos o propósito de permitir a regeneração no
relacionamento. Sem o processo de confrontação de pressupostos antigos,
independentemente de quão dolorosos sejam, o relacionamento, seja como for,
acaba morrendo.

A submissão à escuridão, à
sombra, a aceitação dos aspectos negativos de "anima" e "animus", o lado afetivo
e instintivo à natureza, e a assimilação do inconsciente no sentido de
integração da personalidade, são algumas das expressões mais significativas que
caracterizam o início decisivo do desenvolvimento psíquico do homem moderno.
Inanna chega até nós para
dizer que uma jornada até o inferno é o caminho para a totalidade. Você como
Inanna deve desafiar seu lado sombra, abraçar esta sua irmã do submundo e tentar
desvendar seus mais secretos segredos. É necessário conhecer todos os aspectos
de si mesma(o), tanto os bons quantos os ruins para se conquistar a totalidade.

Abandone você também todos
os seus pertences, deixe cair suas vestes e entregue-se à viagem em busca de seu
lado sombrio. Aventure-se na escuridão do seu ser, pois é só assim que alcançará
o equilíbrio, a iluminação e a inteireza.
Esta jornada deve durar o
tempo que for preciso. Quando chegar ao sub-mundo, Inanna irá lhe receber e seu
retorno será repleto de glórias, mas com consciência da sua vulnerabilidade,
pois só assim, poderá erguer-se aos céus impulsionada (o) com a força do
conhecimento e da sabedoria adquiridos.

JORNADA AO SUB-MUNDO
Para realizar esta jornada
você necessitará em primeiro lugar de um recinto fechado, de preferência
chaveado para ter o máximo de privacidade. Outros materiais:
1 vela branca (colocada à
sua frente)
1 taça com água (à direita)
1 incenso (à sua escolha,
pode ser colocado à esquerda).
1 espelho

Como a deusa Inanna você
escolheu fazer esta viagem ao sub-mundo, portanto é necessário tenha consigo 7
objetos para se desfazer, podem ser peças de roupa.
Crie um espaço sagrado no
seu imaginário, sente-se ou fique em pé, em frente à vela e invoque com suas
próprias palavras ou diga:
Oh Inanna, Rainha do Céu e
da Terra,
Que regenera nossos
destinos à cada lua nova,
Nos envolva com seu manto
de sabedoria e beleza
E nos guie nesta viagem,
que já lhe é tão conhecida
Estou disposta(o) à descer
ao sub-mundo
para compreender sua magia
e mistérios,
pois estes conhecimentos
são necessários
para a evolução de minha
alma.
Deusa Inanna, poderosa
rainha dos povos antigos
Abençoa-me na luz da sua
onisciência!

Quando achar que estiver
pronta(o), inspire profundamente e expire, desapegando-se de tudo. Inspire e
relaxe o corpo. Agora abra os olhos e se encare-se no espelho. Lentamente comece
a tirar sua roupa, dando a cada uma delas o nome de um elemento que é negativo
em sua vida (inveja, ciúme, raiva,etc). Diga adeus a estes elementos e deixe as
vestes caírem ao chão. Se quiser, realize estes gestos com música, o efeito é
surpreendente. Feito isso, sente-se em frente a vela.
Volte a inspirar e expirar
lentamente por três vezes e sinalize então a entrada de uma caverna. Você está
diante dela e deve entrar. Lá dentro é seguro e você descerá bem fundo, até ver
uma luz no fim deste túnel. É o limiar do Inferno.
Entre sem medo e chame sua
sombra. Qual é sua aparência? Como ela faz você sentir? O que ela tem para lhe
dizer? Tente conversar com ela por um determinado tempo. Se tiver medo quando
encontrar este seu lado sombrio, continue respirando profundamente e reconheça o
medo, ele está ali para ajudá-la(o). Ser capaz de testemunhar todos os aspectos
de nós mesmos, com ou sem medo, é o que nos leva à totalidade.

Agora é hora de voltar,
portanto diga adeus à sua sombra e caminhe de volta ao túnel, sentindo-se
energizada(o), revigorada(o). Suba cada vez mais até chegar a entrada da
caverna. Respire fundo e, enquanto solta o ar, volte ao seu corpo. Respire fundo
mais uma vez e quando estiver pronta(o) abra os olhos. Feliz Retorno!
Minha vulva, a meia-lua,
o Barco do Céu,
Está cheia de avidez como a
jovem lua.
Minha terra não lavrada
está abandonada.
E eu, Inanna,
Quem irá arar a minha
vulva?
Quem irá arar meus altos
campos?
Quem irá arar meu chão
úmido?"
(in A Prostituta Sagrada. A
Face do Eterno Feminino, Nancy Qualls-Corbett, pp.160).

TEXTO PESQUISADO E
DESENVOLVIDO POR
ROSANE VOLPATTO
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