Para os gregos, Perséfone
era a Rainha distante do Mundo Avernal, que vigiava as almas dos falecidos.
Mas, para os romanos, ela era conhecida também como a virgem, donzela, Core,
associada com os símbolos de fertilidade: romã, o grão, o milho, e ainda,
com o narciso, a flor que a atraiu.
Seu seqüestro realizado
por Hades e sua descida ao mundo avernal, é a história mais conhecida de
toda a mitologia grega. Embora Perséfone não fosse um dos doze deuses olímpicos,
foi a figura central nos Mistérios de Elêusis, que por dois mil antes do
cristianismo foi a principal religião dos gregos. Nos Mistérios de Elêusis
os gregos experienciaram a renovação da vida depois da morte através da
volta anual de Perséfone do Inferno.
MITOLOGIA
Perséfone foi a filha única
de Deméter e Zeus. A mitologia grega é incomumente silenciosa quanto às
circunstâncias de sua concepção.
No início do mito, Perséfone
era uma garota despreocupada que colhia flores e brincava com suas amigas. Então
Hades apareceu repentinamente em sua carruagem por uma abertura da terra,
pegou a jovem à força e a levou de volta para o Inferno, a fim de ser sua
noiva contra a vontade. Sua mãe, Deméter, não aceitou a situação, deixou
o monte Olimpo, persistiu em conseguir o retorno de Perséfone, e finalmente
forçou Zeus a considerar seus desejos. Zeus então enviou Hermes, o deus
mensageiro, para ir buscar Perséfone.
Hermes chegou ao Inferno e
encontrou a jovem desolada. Mas seu desespero tornou-se alegria quando
descobriu que Hermes tinha vindo por sua causa e Hades a deixaria partir.
Antes que ela o deixasse, contudo, Hades lhe deu algumas sementes de romã, e
ela comeu. Então entrou na carruagem com Hermes, que a levou rapidamente para
Deméter.
Depois de mãe e filha se
abraçarem alegremente, Deméter ansiosamente indagou se ela tinha comido
alguma coisa no Inferno. Perséfone respondeu que havia comido sementes de romã
porque Hades a tinha forçado a come-las (o que não era verdade). Deméter
teve que aceitar a estória e o padrão cíclico que se seguiu. Não tivesse
Perséfone comido as tais sementes, teria sido completamente devolvida a Deméter.
Entretanto, passou a ser obrigada a permanecer por um terço do ano.
Mais tarde, Perséfone
tornou-se a Rainha do Inferno. Todas as vezes que os heróis e heroínas da
mitologia grega desciam para o reino inferior, Perséfone lá estava para
recebe-los e ser sua guia. Nunca estava ausente para ninguém. Nunca havia
sinal na porta dizendo que ela fora para casa com a mãe, embora o mito diga
que ela fazia isso dois terços do ano ao lado de Hades..
Na “Odisséia”, o herói
Odisseu (Ulisses) viajou para o Inferno, onde Perséfone lhe mostrou as almas
das mulheres de reputação legendária. No mito de Psique e Eros, a última
tarefa de Psique era descer ao mundo das trevas com uma caixa para Perséfone
encher de ungüento de beleza para Afrodite. O último dos doze trabalhos de Hércules
também o levou a Perséfone. Hércules teve que obter a permissão dela para
emprestar Cérbero, o feroz cão de guarda de três cabeças, que ele dominou
e colocou em uma corrente.
Perséfone também lutou
contra Afrodite pela posse de Adonis, o belo rapaz que era amado por ambas
Deusas. Afrodite escondeu Adonis em um baú e o mandou para Perséfone para
preservação. Mas, ao abrir o baú, a Rainha do Inferno ficou encantada com
sua beleza e recusou entrega-lo de volta. Perséfone agora lutava com outra
divindade pela posse de Adonis, como Deméter e Hades outrora tinham lutado
por ela. A disputa foi trazida perante Zeus, que decidiu que Adonis passaria
um terço do ano com Perséfone e um terce do ano com Afrodite e faria o que
quisesse do tempo restante.
O ARQUÉTIPO
Como vimos, Perséfone
tinha dois aspectos: o de jovem e o de Rainha do Inferno. De jovem
despreocupada, ela se torna a deusa madura, que acaba se tornando Rainha
absoluta do Mundo Avernal, governando os espíritos mortos ao lado de seu
marido, Hades, Sombrio Senhor da Morte.
Essa dualidade também está
presente como dois padrões arquetípicos. Todas nós mulheres podemos ser
influenciadas por um dos dois aspectos, podendo crescer um para o outro, ou
podemos ser igualmente jovens e rainhas presentes em nossa psique.
Hoje em dia, cada vez mais
Perséfones latentes têm buscado a literatura esotérica, as formas
alternativas de cura e o que se chama de ensinamentos da Nova Era. Portanto,
é oportuno penetrarmos cada vez mais na história velada de Perséfone,
rainha do além-túmulo.
O mito tem muito a dizer
para as mulheres da atualidade que se esforçam para compreender toda a espécie
de intrigantes experiências psíquicas na natureza ou que, de uma forma ou de
outra, são atraídas a trabalhar com a morte ou sofreram grandes tragédias
pessoais em suas vidas.
Compreender o significado
da descida de Perséfone e sua ligação espiritual é particularmente
urgente. Milhares de mulheres (e muitos homens também) estão atualmente
descobrindo um talento mediúnico. Além disso,, ninguém pode deixar de
perceber a febre de entusiasmo pela metafísica, pelo tarô, pela astrologia,
pelas curas espirituais e pela meditação, tudo isso, vagamente agrupado sob
o estandarte genérico da Nova Era.
Joseph Campbell, que já
foi inigualável autoridade em mito e religião, sugeriu que o despontar
generalizado da consciência de Perséfone seria parte de um “crepúsculo
dos deuses”.
Entretanto, devemos ter
consciência, que viver boa parte da vida “entre os mortos”, pode exercer
pressão sobre qualquer pessoa de temperamento mediúnico, especialmente
quando estas experiências forem erroneamente interpretadas ou temidas, como
costuma ser o caso.
O mundo avernal é
essencialmente um mundo de espíritos e como tal, carece de ardor, afeição e
se dissocia do que chamamos de realidade. A maneira de um médium lidar com
este domínio de existência e com suas ameaças de dissociação psíquica,
constitui, portanto, um desafio sem igual.
O segredo está em abraçarmos
o lado escuro com o lado luminoso desta deusa dentro de nós. Como já disse o
velho alquimista Morienus:” O portal da paz é sobremaneira estreito,e ninguém
poderá atravessa-lo senão pela agonia de sua própria alma.”

O MITO ORIGINAL
Perséfone é a donzela do
Renascimento e da Regeneração identificada com a Lua, a Primavera, as
Serpentes e o Mundo Subterrâneo.
Como Deusa Mãe, Demeter
engendra a sua filha (Perséfone) junto com a criação simbolizada na
Primavera e na Agricultura. Ambas vivem juntas colocando em marcha os ciclos
da vida cósmica, vegetal, animal e humana. Depois
de educar e iniciar sua filha, Deméter, em sua ausência, assume seu aspecto
sombrio de deusa outonal. Neste momento, ela torna-se uma anciã sábia oculta
nas raízes das ervas curativas, se refugiando debaixo da terra e dentro de
covas, até que o ciclo da vida se complete.
É somente com o retorno
de sua filha do Mundo Avernal, e isso acontece na Primavera, é que a Mãe
também volta para povoar o mundo e a vida adormecida nasce sobre a terra. As
plantas florescem, as árvores dão frutos e os animais procriam. Já os
humanos participam deste retorno expressando sentimentos de amor, amizade e
solidariedade.
No
Mito de Deméter-Perséfone visualizamos o símbolo tardio da Virgem Maria
frente a seu filho crucificado (cena encontrada no filme americano “A Paixão
de Cristo”), que segue ressonando na consciência das pessoas. Não existe
nada mais doloroso que chorar a morte de um filho ou uma filha.
Tanto
o nosso mito grego, como o cristianismo exaltam a morte injusta e a dor
materna como arquétipo de amor sublime e abnegado. Entretanto, Deméter-Perséfone,
nos falam de uma concepção sagrada, onde a vida e a morte fazem parte de um
mesmo processo. Ambas não estão dualizadas e não funcionam como irreconciliáveis.
A morte natural como a vida é uma experiência de transformação, iluminação
e amadurecimento que abarcam dimensões espirituais, psicológicas e culturais
das pessoas.
RITUAL DE PERSÉFONE
(Realizado
em Lua Crescente
)
Nesse ritual, use incenso
de sândalo, olíbano, cássia ou pinho. Será necessário um bastão decorado
com fitas coloridas, uma cesta de vime para depositar o bastão, um sino e uma
maçã.
Abra o círculo,
visualizando-o circundado por um círculo de fogo. Chame pelos quatro ventos
para montarem guarda.
Fique de pé diante do
altar, voltado para o leste. Erga seus braços em saudação e diga:
Entre
os mundos eu ergui este altar.
Fora
do tempo, este rito conduz ao antigo caminho,
Onde
poderei encontrar Deméter do grande Olimpo,
E
conjurar alta magia. Apareça, eu ordeno.
Coloque o bastão decorado
na cesta de vime e leve-a para o leste e diga:
Perséfone
retorna ao Submundo.
Não
pranteie, Mãe Terra,
Pois
a Criança Divina do Amor está aqui.
Vire a cesta para o sul e diga
Perséfone
retorna ao Submundo
Apesar
de a luz enfraquecer,
Ela
retornará à Terra.
Vire a cesta para o oeste
e diga:
Perséfone
retorna ao Submundo.
O
frio do inverno se aproxima,
Mas
apenas por um breve período.
Termine voltando a cesta
para o norte e diga:
Perséfone
retorna ao Submundo.
A
Terra permanecerá em repouso
Até
que a luz de seu Filho Divino
Torne
a se fortalecer e brilhe sobre nós.
Posicione a cesta no chão
diante do altar. Toque o sino três vezes. Apanhe a adaga ritual com sua mão
de poder e a maça com a outra. Diga:
Revele-me
seus segredos ocultos
Para
que eu possa
Compreender
seus Mistérios sagrados.
Corte a maça na
horizontal para revelar o pentagrama em seu interior. Contemple este símbolo
sagrado por alguns instantes. A seguir,
diga:
Na
vida está a morte, na morte está a vida.
Tudo
deve obedecer à sagrada dança do caldeirão,
Era
após era, para morrer e renascer.
Ajuda-me
a lembrar que cada início tem um fim
E
que cada fim traz um novo início.
Morda um pedaço da maçã.
Deixe o restante para posteriormente compartilhar com os passarinhos. Diga:
Sagrada
Mãe Deméter,
Conforte-me
e proteja-me em meus períodos de dificuldades,
Instrua-me
nos Mistérios.
Você
e sua filha Perséfone possuem o poder
Para
conduzir-me a um novo entendimento.
Feche o círculo e dê por
encerrado o ritual.
Texto pesquisado e
desenvolvido por
Rosane Volpatto
Ver bibliografia no link:
http://www.rosanevolpatto.trd.br/bibliografia1.html