AIMORÉS E BOTOCUDOS
AIMORÉS
Os principais representantes do ramo tapuia
habitavam uma faixa de terra paralela ao litoral,
do rio São Francisco ao cabo Frio.
Em lutas
contínuas com os tupinambás e os tupiniquins
foram, depois de rechaçados, obrigados a emigrar
para o sertão.
Os aimorés não
deram tréguas aos colonizadores das capitanias de
Ilhéus e Porto Seguro.
Esses índios
eram altos e robustos, de pele clara, atribuído ao
fato de só andarem pelo interior da selva, onde os
raios solares não penetravam com tanta
intensidade. Possuíam o costume de depilar
totalmente o corpo raspando com uma "navalha" de
taquara o cabelo da cabeça.
Viviam
peregrinando pela floresta, sem casa, sem conforto
e sem agasalhos. Dormiam no chão, pois não tinham
conhecimento do uso da rede e conta-se que, quando
chovia, procuravam refúgio na copa verdejante das
árvores.

Além da caça,
nutriam-se de frutos silvestres, que existiam em
abundância pela selva imensa e da pesca.
Os aimorés
divagassem pela mata não somente pela coleta, mas
também pelo seu espírito guerreiro.
Na guerra dos
aimorés não havia nem chefe, nem borés, nem
trocanos, nem guerreiros procurando lutar frente a
frente. Pelejavam rastreando pela mata, como
sáurios, e armando emboscadas em pequenos grupos.
Quando caíam prisioneiros recusavam-se à comer e
quase sempre morriam de inanição e talvez, também
de saudade da vida liberta que levavam.
Os Aimorés,
empurrados pela
expansão dos colonos, se deslocaram de norte para
sul, passando a ser conhecidos como botocudos,
a partir do século XVIII.
OS BOTOCUDOS

O nome Botocudo
utilizado pelos colonos, para designar esses
índios, advêm do uso de adornos (botoques) labiais
e ouriculares que
utilizavam.
Sobre o genérico
nome "botocudo" eram conhecidos os índios das
etnias Pojixá, Jiporok, Naknenuk, Nakrehé, Etwet,
Krenak, entre outras... Os botocudos foram caçados
de forma vil e cruel pelos portugueses e os únicos
sobreviventes são os Krenak, que vivem hoje no
norte de Minas Gerais e não usam mais os antigos
botoques.
Cada grupo tinha
seu modo de viver, com seus costumes particulares,
mas todos eles falavam a mesma língua, mas, com
alguns dialetos que eram compreendido entre os
vários grupos.

Na vida religiosa,
mantinham um contato constante com o mundo dos
espíritos.
Os Botocudos
contavam que os adornos labiais e ouriculares eram
uma indicação de seu herói-cultural, chamado
Marét-Khamaknian, que vivia no céu. Acreditavam
que através dos seus sonhos era possível visitar o
mundo dos Marét, repleto de fartura e riquezas.
Por intermédio desse contato, estabeleciam
seguimentos de suas vidas humanas e até mesmo
previsões futuras relacionadas à comunidade, ou
grupo pertencente.
O herói atendia aos
pedidos da comunidade mas também enviava castigos
na forma de tempestades e na morte, provocada por
uma flecha invisível que atingia o coração dos
índios. Marét-Khamaknian vivia com uma mulher
chamada Marét-Jikki (a velha Jikki), mas o casal
não se dava muito bem e suas brigas eram a
explicação para as diferentes fases da lua.

O rituais
religiosos eram realizados pelos mais velhos ou
pelo pajé. Tinham o costume de acender fogueiras e
realizar oferendas aos mortos, para que não
retornassem para buscar algum membro da tribo.
Os Botocudos viviam
em total harmonia com a Natureza e com seus
parentes. Esse modo de ser e viver só ficou
ameaçado com a chegada dos colonos, que ocuparam a
extensão do Rio Doce, em busca das minas de ouro.
O embate entre os índios e os colonos ocorreu
principalmente em Minas Gerais e Espírito Santo.
AS GUERRAS

A partir do século
XVI iniciou-se os contatos entre os portugueses e
os índios do interior de Minas, Bahia e Espírito
Santo. Nesse período as entradas chefiadas por
Francisco Bruzza de Spinosa e de Salvador Correa
de Sá encontraram os Aimorés nas proximidades dos
rios Pardo, Jequitinhonha e Doce. Após o contato
com o homem branco, os aimorés que sobreviveram as
epidemias e as tentativas de aldeamento, fugiram
embrenhando-se pelos sertões do Leste, mais
precisamente para as faixas de terras que
costeavam os vales dos rios Doce, Jequitinhonha e
Mucuri.
Em Minas Gerais, as
povoações mineradoras de Vila Rica e Mariana foram
atacadas pelos aimorés que, posteriormente
passaram a ser conhecidos por Botocudos de Minas.
Os Botocudos,
segundos recentes investigações de DNA, são os
atuais Krenak, que vivem hoje no Município de
Resplendor, no Vale do Rio Doce. A população é
composta de 250 indígenas, que ocupam uma área
demarcada de 4.200 hectares, conquistada após anos
de luta. Os ancestrais Botocudos eram ágeis
guerreiros e faziam trincheiras e armadilhas e os
mais jovens organizados em uma comitiva vinham à
frente para proteção das mulheres, crianças e
anciões.

O contato desses
índios com os portugueses foi manchado de sangue e
muita violência. Em 13 de maio de 1808, Dom João
VI declarou a "Guerra Justa" aos Botocudos, pois,
segundo ele, os indígenas estariam inviabilizando
os projetos de desenvolvimento de interesses
nacionais. Com base nessa tese foi criada uma
política de militarização para dizimar e ocupar as
terras dos Botocudos. Uma dessas divisões
militares era chefiada por Teófilo Otoni (1858), a
Companhia da Mucuri, que relacionou como rotinas
de guerra os seguintes procedimentos:
"a) cães especialmente treinados na caça aos
Botocudos,
alimentados inclusive com carne de indígenas assassinados;
b) bandeiras especialmente preparadas para "matar uma aldeia",
assassinando-se indiscriminadamente homens, mulheres, velhos,
moços, reservando-se apenas as crianças para o trafico
e alguns homens para carregadores;
c) índios recrutados como soldados estimulados a cometerem
violências contra os Botocudos, dando provas de renegar
suas origens;(...)
d) comércio de crianças - 1Krenak valendo uma espingarda
- e de cabeças de Botocudos mortos em combate - dezesseis
delas foram vendidas a um francês que disse tê-las
comprado para o museu de Paris em 1846;
e) índios sob o regime de trabalho escravo, espoliados
de suas terras, doentes e mal alimentados;
f) contaminação proposital de comunidades inteiras
através de agentes patogênicos letais para o indígena
- sarampo, por exemplo." (Marcato, 1979:18 apud Mattos, 1996, p.71)
Em 1823 após a
Guerra Justa, houve uma tentativa de pacificação
pelo francês Guido Marliére, inspetor de todas as
Divisões Militares do Rio Doce. Também incentivou
os casamentos entre índios e não-índios, idéia que
não foi bem aceita pelos colonos. Missionários
Capuchinhos foram levados à área, como outra
alternativa à pacificação, mas fracassaram.

A ocupação do Vale
do Rio Doce só acabou acontecendo no início do
século XX, a partir da construção da estrada de
ferro Vitória-Minas, pela atual Companhia Vale do
Rio Doce.
Os Botocudos
sobreviventes, das guerras coloniais, tiveram
então que enfrentar as conseqüências da construção
da estrada de ferro, que acarretou em uma
diminuição ainda maior de seu povo.

Os índios chamavam
a Maria-Fumaça que percorria os trilhos de
"Guapo", que significa monstro que vomita fogo. Os
Krenak não aceitaram a invasão do 'Guapo" que
cortava seu território e faziam expedições à noite
para arrancar seus trilhos.
A construção da
estrada de ferro trouxe à região toda a espécie de
trabalhadores, agricultores, pecuaristas,
madeireiros, exploradores de pedras, surgindo e,
seguida, vilas e arraiais. Tal aumento
populacional acarretou um maior número de
conflitos com os índios Krenak.
No ano de 1910, os
Krenak foram agrupados pelo Serviço de Proteção ao
Índio (SPI), numa área a 16 Km da atual cidade de
Resplendor. Mesmo assim os conflitos continuaram
acontecendo e por duas vezes (1956 e 1972), os
índios foram retirados de suas terras pelos
governo federal e estadual, resultando em uma
grande dispersão do povo Knenak para os estados de
São Paulo, Mato Grosso e Minas Gerais.
Somente em 1997, os
Krenak são reintegrados no território que lhes foi
doado no ano de 1920. Infelizmente, esse
território não é mais o que viveram em época
passadas, pois encontra-se totalmente esvaído de
seus recursos naturais.

Localizado no
município de Resplendor (MG), o Posto Indígena
Krenak ocupa atualmente uma área de 3.983 ha. que
lhes foi doada em 1920 pelo então Presidente do
Estado de Minas Gerais, Sr. Arthur da Silva
Bernardes, através da lei n. 788 de 18 de setembro
de 1920. As principais atividades econômicas dos
Krenak são a pecuária, a agricultura, a pesca e a
confecção de artesanato.
Em decorrência de
sua história de dispersões, há indivíduos Krenak
dispersos em diversas áreas indígenas, porém o
grupo mais importante se situa em Vanuíre ( SP),
juntamente com os Kaingang, na Área Indígena
conhecida como 'Tupã", no interior de São Paulo.
A história dos
Krenak é igual a tantas outras de outros povos
indígenas: são perseguidos, escravizados,
consumidos pelas doenças dos brancos , quase que
totalmente exterminados nas "Guerras Justas", etc.
Entretanto esse povo aguerrido venceu todas as
expectativas de fazê-los desaparecer e eles hoje
estão cuidando de seu próprio território,
recuperando as matas e os córregos, devastados e
poluídos, cantando e dançando em honra aos seus
ancestrais.
Cantam de dia ou a
noite, durante as festas e rituais em sua língua
materna. É através do idioma nativo, passado de
pai para filho dentro da aldeia indígena, que os
Krenak estão aos poucos revivendo sua cultura que
ficou adormecida por um longo período de suas
vidas.

Texto pesquisado e
desenvolvido por
Rosane Volpatto
Bibliografia
ALMEIDA, Ceciliano A. de. O desbravamento das
selvas do rio Doce : memórias. Rio de Janeiro :
José Olímpio Ed., 1978.
ALMEIDA, Maria Inês de, coord. Conne Pãnda -
Ríthioc Krenak : coisa tudo na língua krenak. Belo
Horizonte : SEE-MG ; Brasília : MEC/Unesco, 1997.
68 p.
ALVIM,
Marília C. de M. Diversidade morfológica entre os
índios botocudos e o "Homem da Lagoa Santa". Rio
de Janeiro : Univer. Estadual da Guanabara, 1963.
(Tese de Livre Docência em Antropologia Física)
KRENAK,
Ailton. Recuperação física e ambiental da terra
Krenak. In: RICARDO, Carlos Alberto, ed. Povos
Indígenas no Brasil : 1991/1995. São Paulo :
Instituto Socioambiental, 1996.
SOARES,
Geralda Chaves. Os Borun do Watu : os índios do
rio Doce. Contagem : Cedefes, 1992.
www.socioambiental.com.br
www.funai.gov.br

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