ÍNDIOS GUAICURUS
Os guaicurus foram célebres
cavaleiros que habitaram a região sul do Mato Grosso do Sul. Eram
ainda aguerridos dominadores dos campos e das vias navegáveis, sendo
portanto, ao mesmo tempos, hábeis canoeiros, como exímios cavaleiros.
Habitavam uma região somente
enquanto houvesse caça em abundância. Desde que essa tornar-se
escassa, mudavam de residência, removendo com facilidade as esteiras
que lhes serviam de tendas. Eles foram os primeiros índios a terem
contato com os espanhóis em 1535. Esse contato e o conhecimento do
cavalo (trazido pelos espanhóis), modificou todos os hábitos desse
povo.

Prestavam ao chefe da tribo
todas as honras, inclusive uma não muito higiênica: quando notavam que
ele ia escarrar, estendiam as mãos em concha para receber o escarro.
E, quando o cacique morria, alguns índios se suicidavam para fazer-lhe
companhia na viagem do além. Como pensavam que o morto se alimentava,
construíam sobre os túmulos, cabanas onde colocavam víveres.
Crianças disformes e
ilegítimas ou gêmeas eram mortas. A mãe não podia criar mais de um
filho, portanto, se tivesse gêmeos deveria matar um ao nascer. O
aborto também era muito praticado entre os guaicurus de um modo
bastante peculiar: a mulher grávida matava o feto pedindo para uma
outra andar de joelhos sobre o seu ventre. Como a poligamia não era
permitida, a maioria desses abortos era em virtude da concepção de
filhos fora do casamento. Ao contrário dos outros índios os guaicurus
não ofendiam nem matavam as mulheres inimigas que caiam prisioneiras e
não agrediam as suas companheiras. Cada guerreiro deveria viver sempre
com uma única mulher, podendo, porém, trocá-la quantas vezes quisesse.
Para um guaicuru ser
admitido como guerreiro, deveria dar uma prova de seu valor,
resistindo à dor. Para isso espetavam-no nas regiões mais delicadas.
Todos os homens andavam nus
e as mulheres, usavam da cintura para baixo, uma tanga de peles e,
para cima, pintavam-se como os homens.
Era o corte do cabelo que
distinguia a classe dos guerreiros. Os jovens, traziam, à cabeça, uma
rede.
O AMOR PELO CAVALO

Os guaicurus tinham um
grande amor pelos cavalos e eram exímios cavaleiros. Chamavam o cavalo
de "apolicane" (anta) e a anta, de "apolicane do mato".
De cima do cavalo manejavam,
com admirável destreza e rapidez, um porrete, de cinco ou seis palmos
de comprimento, com uma polegada de diâmetro, feito da estirpe da
palmeira gerivá. Com o animal em disparada, o índio desferia violenta
pancada na caça a abater, todavia, quando ele via que não podia
alcançar a presa, girava o porrete no ar e arremessava-o com força. A
certeza do golpe era absoluta, em virtude do bastão atingir a caça
pelas pernas. A pancada era tão violenta que quebrava as pernas do
homem ou da fera, impossibilitando-os de fugir.
Assim que um guaicuru
avistava um ruminante, mesmo oculto no arvoredo, incitava seu cavalo
com gritos e partia a galope, rodopiando no ar seu porrete de caça.
Acontecia que algumas vezes o veado embrenhava-se na selva e se não
fosse um excelente cavaleiro seu cavalo podia imprensá-lo contra os
duros e tortuosos das árvores. Todo cuidado era pouco, mas como tinham
no cavalo suas pernas excedentes e nasciam nos pêlos dos cavalos, era
difícil que tal fato ocorresse freqüentemente.
Foi também o cavalo, que
permitiu que os guaicurus pudessem se deslocar por todo o território
do Pantanal,
das proximidades de Cuiabá até Assunção, nas encostas andinas até as
tribos do Guarani, na bacia do Paraná.
O TUCHAUA
O chefe guaicuru era
hereditário, contudo, quando acontecia o herdeiro se tornar incapaz ou
inapto, era realizada uma eleição entre os homens para escolherem um
novo conselheiro "tuchaua".
GUAICURUS-CAIDIUÉOS
Esses índios vagavam ao
longo do Paraguai, desde o forte Coimbra até o Pão de Açúcar, para se
apropriar de bois e cavalos. Entretanto, não invadiam as fazendas, mas
tomaram, o forte Olimpo, dispersaram a guarnição do mesmo e trouxeram,
como troféu, as fechaduras e dobradiças das portas.
Os guaicurus eram índios
verdadeiros "Hércules pintados" e muito inteligentes, que enfrentaram
vigorosamente os invasores e só não exterminaram todos os espanhóis do
Paraguai, porque eram em menor número. Eles jamais aceitaram ser
dominados nem pelos espanhóis, nem pelos portugueses. Aliciados e
doutrinados por jesuítas, cuja missão acolheram em seus toldos, se
lançaram contra os portugueses, atacando Cuiabá e Vila Bela. Em campo
aberto, não tinha quem vencesse os guaicurus, pois montavam seus
cavalos segurando-se somente nas crinas, deitavam-se ao lado do cavalo
para não serem alvos fáceis e avançavam galopantes munidos com suas
boiadeiras e lanças. Muitas foram as outras tribos indígenas que
aceitaram de "bom grado' a proteção desses valentes cavaleiros-índios.
Terminaram, entretanto, despojados de seu gado e de seus cavalos,
debilitados pela peste do homem branco.
Desde 1857, as índias
caudiuéas já usavam para vestir, tecidos de algodão. Também enrolavam
lenços ou colchas em torno do busto comprimindo os seios, de modo que
pareciam estarem vestindo uma túnica. Complementando seus trajes, as
índias pintavam suas faces com tinta azul-escuro de jenipapo e
vermelho e urucum. As viúvas pintavam no rosto flores e estrelas.
LENDA GUAICURU
Uma certa vez, o tuchaua,
curioso, resolveu perguntar para o seu Deus porque havia numerosas
outras tribos e os Guaicurus eram tão pouca gente.
Então seu Deus respondeu:
-" Fiz os guaicurus um povo
bravo, robusto, inteligente e, se tivessem muitos, todos os outros
seriam seus escravos e não existiriam mais!".
O chefe da tribo disse
ainda:
-"Mas Vós destes aos outros
índios o arco e a flecha que aterram os contrários, e a nós ensinastes
a preparar o bastão de gerivá: é esse a nossa única rama!"
E Deus respondeu:
"Se tu, guaicuru, és temido
e escravisas os outros homens só com esse bastão, o que farias se
manejasses as flechas que usam teus inimigos?"
UMA HISTÓRIA VERDADEIRA
Essa é uma história que foi
contada pelo militar comandante Cláudio Soído, no ano de 1857, QUE
DIZIA:
"Nos fins do século passado,
brigavam os Guaicurus com os Paiaguás, índios, que, como se sabe,
habitavam o Paraguai, e de cujo nome formou-se a palavra Paraguai. D
dita briga, chegou chegarem-se a nós os Guaicurus, que, até então,
aliados dos Paiaguás, tinham ódio de morte à colônia portuguesa em
Mato Grosso. E porque mudaram de opinião, juraram fidelidade a el-rei
de Portugal como seus vassalos, o que fizeram em Cuiabá, na presença
do capitão-general Luiz de Albuquerque.
Nessa visita, porém, recusou
a mulher do chefe guaicuru Emavedi Chané, orgulhosa da sua estirpe de
chefe por herança, juntar-se à senhora do capitão-general, dizendo que
essa senhora era igual às suas escravas, e que ela, mulher de Emavedi
Chané, tinha por igual a mulher desse que ficou lá.... e apontou com a
mão para longe. Essa que ela reconhecia por sua única igual era a
rainha D. Maria I".
E, realmente ela estava
totalmente certa, pois como a rainha portuguesa, sua nobreza era
hereditária e deveria ser respeitada como tal, não fosse o insensato
modo de ver dos colonizadores portugueses.
Os indios guaicurus deixaram um
marco na história do Brasil, pois, durante a Guerra do Paraguai, foram
grandes aliados dos brasileiros e a ajuda deles foi fundamental
para a segurança do Forte de Coimbra e até hoje, portanto, merecem o
justo agradecimento do Exército Brasileiro. Hoje, no século XXI,
encontramos pouco mais de meio milhar de índios guaicurus espalhados
por fazendas de criação.
É a própria história que nos
ensina que há "mortos que nunca morrem", pois eles sempre estarão
vivos enquanto houver quem se lembre deles, mas nossos índios são os
"vivos" que estão quase mortos, pois hoje, nutrem-se de uma história
marginalizada, violentada e silenciada. Se nosso índio já foi o
verdadeiro "DONO DESSA TERRA", vivem agora em situação de mendicância.
Mendigam não o pão de cada dia, mas a necessidade de resgate de sua
identidade, de sua cultura e de sua dignidade.
Para o "homem branco" é
fácil dizer que a história sangrenta desse país já passou, pois eles
continuam dominando e atraindo cada vez mais indígenas para as cidades
com falsas necessidades e ilusões consumistas. A própria
cultura, não se preocupou com a valorização do próprio índio, mas sim
cristianizar, civilizar e branquear o indígena. Suas religiões,
juntamente com o conjunto de tão belos mitos e lendas, têm sido
ridicularizadas e desvalorizadas.
O que os índios querem?
Justiça e não piedade!
Liberdade religiosa e não
submetimento!
Resgate cultural e não à
civilização!
Sobrevivência e não à
exclusão!
Somente quando a sociedade
brasileira tiver consciência de quem foi nosso índio e de quem ele é
hoje, se dará conta do quanto já lhe foi tirado e do quanto ainda pode
perder, se não houver mudanças no modo de agir e pensar em relação à
ele. Não esqueçam, pleitear ignorância não isenta de culpa!
Texto pesquisado e
desenvolvido por
ROSANE VOLPATTO
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