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ÍNDIOS KAXINAWAS


Os primeiros habitantes do Vale do Juruá, onde nos avizinhamos do Peru, foram os Kaxinawas e seus parentes: marinauas, contanauas, capanauas, xaranauas, jaminauas, todos do tronco aruaque.

Hoje, em número de 6 mil, constituem a população mais numerosa do estado do Acre, espalhados entre os rios Purus, Juruá, Jordão, Envira, Tarauacá e Breu. Esses índios ainda hoje vivem com muita dificuldade, lutando pelo reconhecimento de suas terras e para libertar seus irmãos das mãos dos seringueiros.

Os Kaxinawas praticam a agricultura, organizando grandes roçados, onde plantam banana, mandioca, milho, batata doce, amendoim, mamão e algodão. Também caçam e pescam. Uma caçada rendosa sempre fornece motivo para grandes festejos.

TECELAGEM

A tecelagem é uma arte milenar que foi passada de mãe para filha. As índias plantam o algodão em seus roçados, colhem e depois o trabalham delicadamente até que, magicamente começam a surgir fios entre suas mãos. Os fios então, transformam-se em novelos que são separados para serem tingidos de várias cores. Com urucum, surge um vermelho vibrante, com jenipapo, surge o preto, mas também são usados o verde, o rosa, o laranja e o amarelo. Depois que as linhas estão devidamente tingidas, as índias montam seus teares manuais e todas sentadas no chão iniciam a confecção das roupas de toda a família, cestos e as redes de dormir.

O trabalho é dedicado e requer muita paciência e concentração. No final, surge um tecido que pode conter até 32 padrões denominados kenê, constituído de formas geométricas e harmoniosas que traduzem discretamente toda a mística desse povo. Outra atividade é a cerâmica, onde as hábeis oleiras kaxinawas, fazem potes, vasos, pratos e panelas de barro.
 

FESTA DO MARIRI

A dança é um rito com que esses índios sempre comemoraram as vitórias obtidas. Na dança do jacamin, os homens cruzam os braços por cima dos ombros dos companheiros vizinhos. Enquanto a roda gira para frente ou para a direita, os dançarinos, bamboleando os corpos, batem com os pés e gritam arremedando o jacamin.

A festa do Mariri é uma festa realizada após a colheita do milho, base alimentar desse povo. É uma maneira de agradecer aos espíritos da natureza por toda ajuda que culminou em uma excelente colheita, assim como também pela saúde de seus filhos e pela sorte nas caçadas e pescarias.

Os festejos podem durar vários dias e todas as tribos vizinhas são convidadas para confraternizar. Em torno de 15 dias antes, os homens saem para buscar a caça, enquanto que na aldeia as mulheres preparam a bebida feita com mandioca, conhecida pelo nome de "caiçuma". A macaxeira são colocados em uma gamela e com o "batã", que é um cubo de madeira, são espremidos, fazendo um movimento rotativo. Depois de obtida uma massa bem rala, colocam-na numa panela, adicionando-lhe água. Depois de algum tempo é feita a cocção. A bebida só é distribuída pelo pajé de madrugada. Durante o ritual, algumas pessoas, majoritariamente homens adultos, bebem ayahuasca.

Todos os participantes da festa pintam seus corpos com desenhos geométricos para honrar os espíritos das florestas. Alguns, mais vaidosos, enfeitam-se com palha de jarina que pendem da cabeça e em tangas rodeando a cintura até os joelhos. Já outros, ostentam orgulhosos sobre a cabeça cocares feitos com penas da arara vermelha ou a cauda amarela dos japós. Vale tudo para marcar presença, unir o povo e ensinar aos mais novos as tradições indígenas.

Ao ser dado o sinal para ser iniciado o cerimonial, os homens de braços dados dirigem-se para a floresta, enquanto que as mulheres, improvisam vassouras com palhas secas atadas pedaços de madeira e colocam fogo. Os homens logo surgem  e dançam em círculo. As mulheres com suas vassouras em chamas aproximam-se e tentam queimar os pés dos companheiros, que agora pulam mais alto e dão muitas gargalhadas. Essa é uma brincadeira, que ajuda a quebrar um pouco a seriedade do cerimonial e coloca todos bem mais à vontade.

"FAR WEST" AMAZÔNICO?

Como no tempo dos filmes de "Far West" americanos, há 100 anos atrás, os índios Kaxinawas foram massacrados e afugentados de suas terras, ricas em seringueiras nativas pelos cearenses. Em seguida, como a mão-de-obra não era coisa fácil de ser conseguida, eles foram escravizados pelos patrões seringueiros. Muitos deles recebiam inclusive tatuagens com as iniciais de seus donos, tornando-os verdadeiras propriedades devidamente marcadas.

Com o tempo, conseguiram se libertar dessa escravidão e explorando a borracha que lhes pertencia, conseguiram organizar-se em cooperativas e obtiveram o reconhecimento de suas terras originais.

Hoje os Kaxinawas também investem na preservação e criação de tartarugas e tracajás.
 

SÁBIAS LENDAS

ORIGEM DA NOITE

No princípio, quando nesse mundo só havia Kaxinawas, só havia dia, porque o buraco do sol estava aberto.

Mas certa vez, o Pajé encontrou o buraco da noite que estava tapado e foi aberto por ele. Então a noite saiu e tudo escureceu. Os kaxinawas dormiram até que o Pajé destapou o buraco do sol.

E assim o Pajé pôs um kaxinawa para abrir e fechar o buraco do sol e outro para abrir e fechar o buraco da noite. Quando um abria o outro fechava, e começou a haver dia e noite.

ORIGEM DO FRIO

O frio saiu de um buraco diferente do buraco do sol e da noite, também descoberto pelo Pajé, que pôs outro kaxinawas perto dele.

Todos esses buracos ficam na raiz do céu, onde a noite é muito escura, a manhã muito clara e o frio muito forte.

ORIGEM DA CHUVA

A chuva não vêm da raiz do céu, mas lá de cima. Lá em cima, no céu, há uma grande lagoa no fundo da qual, há um buraco que está tapado pelo pé de uma garça muito grande. Quando a garça se distrai apanhando peixe e tira o pé do buraco, chove.

Um índio kaxinawa jogou um peixe dourado perto do buraco da chuva. A garça, para pegá-lo, tirou o pé do buraco. Choveu pela primeira vez. E até hoje chove, porque a garça se acostumou a se equilibrar sobre um pé só, à espera de outros peixes.

ORIGEM DO RAIO

Os kaxinawas que estão no céu não deixam de trabalhar. Quando o machado escapole e faz brecha, cai o relâmpago na terra, fazendo o estrondo que é o trovão. O cupim vem, tapa o buraco e o trovão passa.

SIMBOLISMO DAS LENDAS

Nas palavras simples das lendas dos kaxinuawas estão contidas muitas verdades universais. Em suas lendas, presenciamos o reaparecimento da árvore e do buraco de suas raízes é que saem o sol, a noite e o frio. Portanto, todo o destino dos kaxinuawas dependem da árvore que remonta à Idade da Pedra e já abarcou muitos mundos em suas vigorosas raízes.

A imagem da árvore firmemente plantada na terra que a nutre, mas que se eleva no ar onde desenvolve sua copa, serve de motivo para imaginação da humanidade desde o início dos tempos. Sua sombra serve de abrigo para o mundo e nela se recolhem os animais, em seus ramos brilham os frutos como estrelas e o mundo sedento se alimenta de seu orvalho noturno. A árvore também alça-se aos céus como uma torre e suas raízes assentadas na escuridão equivalem ao seu enraizamento no espaço do céu noturno.

O simbolismo arquetípico da árvore, independente de qualquer corrente teológica é de destino e conhecimento, de morte e renascimento. A árvore mais conhecida por todos nós é a Yggdrassil, cujos ramos elevam-se além céu e atinge as profundezas insondáveis da terra com suas três raízes que alcançam o mundo inferior (Niflheim), o reino de Asgard e Jotunheim, o reino dos gigantes de gelo.

A nossa árvore indígena também possui três raízes e em cada delas há um buraco, que ao ser destapado pode gerar a escuridão da noite, simbolizando o inconsciente e a morte. Já o descobrir do buraco do sol, aparece como a consciência e o renascimento. Sendo o buraco do frio o equivalente ao reino dos "gigantes de gelo", ou seja, o estado intermediário entre a vida e a morte, a descida ao inconsciente.

O destino do homem se forma lentamente a medida que a árvore profundamente enraizada cresce com o tempo e desenvolve seus ramos. Sendo assim, o destino do homem é um eterno "descobrir". Um dia pode ser de uma manhã muito clara, outro, uma noite muito escura, ou poderá variar com as estações da alma. Quando o buraco do frio estiver aberto, será inverno em nossas vidas e estaremos submetidos a dor, a dificuldade ou perturbações. Nesses momentos, é sensato seguir o instinto da natureza e recolhermo-nos ao nosso íntimo. Mas um novo amanhecer sempre surgirá da escuridão, assim como o inverno também dará passagem para a primavera, um período de grande exuberância e esperança.

Tudo que nos acontece, segundo a sabedoria indígena, acontece com o tempo e através do tempo. É o tempo, com seus dias e noites, com suas estações que leva toda a experiência nova à porta de nossos corações. O buraco do tempo abre-se para revelar o mistério da alma.

APRENDA COM A SABEDORIA INDÍGENA!

Texto pesquisado e desenvolvido por

ROSANE VOLPATTO