MUNDURUCUS, OS GUERREIROS

Chefe Mundurucu em trajes cerimoniais.
Aquarela de Hercules Florence, desenhista
da Expedição de Langsdorff, 1828.

No curso superior do rio Tapajós, foram encontrados os Mundurucus, descendentes mesclados dos tupis e considerados os indígenas mais hábeis nos ornatos em penas.

Foram vistos, pela primeira vez, andando completamente nus. Os homens usavam um canudo de folhas que disfarçavam o sexo e, as mulheres usavam um tecido de palha.

Raspavam a cabeça, deixando no alto, um tufo de cabelos. A parte raspada era pintada com uma tinta denominada "será".

Durante as festas ataviavam a cabeça com o "aquiri" que nada mais é do que um casquete de penas com borlas de palha que caem ao longo das faces. O "ichú", que era um pequeno cesto enfeitado de penas, onde conduziam animaizinhos vivos, era colocado a tiracolo.

Nas festas guerreiras, as vestes eram bem mais pomposas.

Na cabeça era colocado o "aquiiriaá", que é um "aquiri" com uma pequena cauda, que cobria as costas. Atavam, na cintura, um saiote com quatro caudas de arara que chamavam de "tempe-á". Como um talabarte cingem o "curarape", urdido com mimosas penas. Apertando o biceps, usavam o "bamam". Nos pulsos, uma pulseira, o "ipé-á".  Nas pernas, como jarreteiras, colocavam o "caniubiman" e, nos tornozelos, umas ligas denominadas "caniubicric".

Costumavam fazer em cada orelha três furos por onde introduziam enfeites nos dias festivos.

Nas festas exibiam o "iraré", o arco, o "putá", cetro e o "pariuá-á" que nada mais era do que a cabeça mumificada de um inimigo.

CABEÇAS MUMIFICADAS

Depois de um combate, os Mundurucus cortavam as cabeças dos inimigos. Enfiam uma vara flexível pela boca, passando pelo pescoço, de modo a facilitar seu transporte.

Em seguida deslocavam-se até a praia e era aqui que os Mundurucus se revelavam ótimos cirurgiões. Começavam arrancando os dentes do infortunado vencido, depois, extraindo-lhes os olhos e os ossos, reviravam a cabeça pelo lado avesso. Com uma faca de taquara cortavam e retiravam toda a musculatura, embebendo o que sobrava em óleo de andiroba (carapa guianensis). Terminado este trabalho, recompunham a cabeça, empalhando-a de maneira que as feições do inimigo permanecessem fiéis.

Depois da cabeça completamente pronta, colocavam-na em um moquem a fogo brando para secar. À medida que a cabeça se contraía, o enchimento ia sendo retirado, até que a contração fosse total.

Com uma agulha de taquara costuravam os lábios da vítima, com tecido tecido de algodão, deixando longos fios dependurados, os quais eram matizados com o urucum.

A cabeça era atravessada, de baixo ao alto, por um longo cordão, afim de poder ser pendurada às costas do vencedor.

O "pariuá-á" era guardado em fumeiro.

Os índios peruanos mumificavam as cabeças dos inimigos, enchendo-as, depois de desossadas com areia quente, pela abertura do pescoço. Com pedras lisas e aquecidas "passavam a ferro" a cabeça do inimigo. Para não queimar as mãos, seguravam os seus "ferros de engomar" com auxílio de folhas de palmeiras. Esta engomação durava cerca de 48 horas e só era dada como terminada quando a pele ficava completamente lisa e dura como couro; neste momento a cabeça ficava reduzida ao tamanho de uma cidra.

A FESTA DA "PARIUATE-RAN"

A "pariuate-ran" era uma cinta de algodão preparada pelo tuchaua (chefe-feitiçeiro, xamã) e enfeitada com dentes extraídos das cabeças do inimigo.

Era esta cinta uma verdadeira condecoração com que o chefe da tribo distinguia os guerreiros feridos ou as famílias dos mortos representadas pelas viúvas respectivas. Os agraciados com as cintas deixavam de trabalhar para serem sustentados pela tribo.

Todos os guerreiros que possuíssem a "pariuá-á" eram também pensionistas da tribo, porém, só  por cinco anos, tempo que transcorria entre a batalha em que o guerreiro adquiriu a cabeça e a festa da "pariuate-ran".

Antes da festa da cinta, era realizada uma grande caçada, na qual adquiriam as provisões para o dia marcado. Nesse dia, toda a tribo se reunia para assistir o tuchaua confeccionar a cinta e enfeitá-la com os dentes do inimigo, os quais eram limpos e furados, para serem depois dependurados. Durante este trabalho, todos os presentes permaneciam nus e sentados, entoando hinos guerreiros.

Terminada a cinta, todos se dirigiam à Casa dos Homens, denominada pelos Mundurucus de "exçá", para vestirem seus trajes de festa e se armarem.

Junto ao "exçá", formavam-se alas de guerreiros, ficando em uma das extremidades o tuchaua com as cintas. Os que iriam ser agraciados deixavam o cabelo crescer e se apresentavam em frente ao chefe, completamente nus.

Enquanto o tuchaua cingia a cinta no guerreiro, era tocado o "oufuá", espécie de clarim de guerra.

Depois que todos os "inem-nãtes" (feridos) fossem condecorados, apresentavam-se três viúvas como representantes das famílias enlutadas. Traziam como adorno um colar de dentes do inimigo; a tiracolo, o "curuape" de seu marido, e, em cada mão, um "putá".

Quando ecoa o som medonho do "carucu", a festa terminava.

Formava-se então, uma grande procissão, indo à frente as viúvas agraciadas, que choravam de porta em porta, a perda dos guerreiros da tribo. Enquanto isso, toda a tribo cantava canções tristes e batia fortemente os pés, produzindo um ruído que ao longe podia ser ouvido.

Estes festejos se iniciavam sempre ao cair da tarde e prolongavam-se até o alvorecer. No dia seguinte, o tuchaua, cortava o cabelo de todos os feridos.

A festa continuava por tantas noites quantos fossem os feridos à recompensar.

O povo de Mundurucu teve uma participação importante na guerra dos Cabanos entre 1832 e 1840. Essa foi uma insurreição que tive sua origem nos conflitos entre latifundiários poderosos, índios, e os fazendeiros que lutaram contra o controle político e econômico da elite portuguesa.

Os povos indígenas foram aliciados em ambos os lados, com os rebeldes e com as tropas do governo.

Em 1938, durante a fase final da revolta, em "Mundurucânia" houve um ataque maciço das forças portuguesas, onde os índios Mawé, os Mundurucus e os Mura chacinados perto do rio de Autaz. Calcula-se que foram mortos mais de 30 mil índios. Os que sobreviveram foram presos e escravizados.

JUSTIÇA... ANTES TARDE DO QUE NUNCA!

No dia 27 de fevereiro de 2004, foi publicado no Diário Oficial da União, o decreto do Presidente da República que homologou a terra indígena Mundurucu, de Jacareakanga (PA). Uma área de 2.381.000 hectares de terra foram entregues à 7.000 indígenas habitantes dessa região.

Este gesto, pode ser considerado o primeiro passo para um verdadeiro e sincero "pedido de desculpas", pelas atrocidades cometidas contra os povos indígenas desta terra.

Quando Cabral aqui chegou, no atual Brasil viviam em torno de 900 povos nativos com uma população de mais ou menos 5 milhões de habitantes.

Com a colonização, iniciou-se o sofrimento destes povos: muitos foram tornados escravos e foram obrigados a trabalhar nos campos, com o cultivo da cana de açúcar e café.

Os portugueses invasores roubaram de nossos índios, seu espaço vital e destruíram sua cultura. Expuseram-nos também a infinidades de doenças, para as quais não possuíam imunidade. Deste modo, o povo indígena foi sofrendo uma redução drástica de sua população, principalmente os que viviam ao longo do rio Amazonas. No século XVIII, os Omagua e os Tapajós já haviam deixado de existir. Somente poucos das tribos de Mundurucu, Mawé e Mura tinham sobrevivido.

Foi somente no final dos anos 60 (1960), que o estado brasileiro, tomou a iniciativa para proteger os indígenas e começou a punir quem os assassinava.

Hoje, nossos índios pouco se diferenciam dos trabalhadores rurais, sendo que eles ainda são muito discriminados.

As estatísticas não mentem e, segundo dados oficiais, hoje vivem no Brasil 225 povos indígenas, perfazendo uma população de 551.210 pessoas.

Texto pesquisado e desenvolvido por

ROSANE VOLPATTO

Dados Gerais: (coletados do site http://www.sil.org/americas/brasil/)

Nome: Munduruku
    Nomes alternativos: Mundurucu, Weidyenye, Paiquize, Pari, Caras-Pretas
    Classificação lingüística:
Tupi
    População: 7.000 ou mais
    Local: Pará, Amazonas. 22 aldeias