NAMBIQUARAS/NAMBIKWARAS


Os Nambiquaras foram
vistos pela primeira vez no Chapadão do Jati, justamente no
local onde se localizava a estação telegráfica do Juruena.
Esses indígenas algumas vezes atacaram a residência de verão
dos capitães-generais (Casalvasco).
Nessa época andavam
nus, trazendo, os homens à cintura, um saiote urdido com
folhas tenras do buriti. Furavam as orelhas afim de
dependurarem compridos brincos de contas. O septo nasal e o
lábio superior eram atravessados por pedaços de madeiras.
Estranhas ligas de
tucum ataviavam os punhos, os braços e os jarretes. Ornavam
ainda, no pescoço lindos colares feitos com frutos da bacaba.

Tinham o hábito de
dormir no chão e eram chamados pelos seus vizinhos parecis de
"uiacoacorês", ou seja, "gente que dorme no chão". Entretanto,
esses indígenas só se deitavam em terreno de areia e muitas
vezes, em viagem, caminhavam léguas para encontrar um espaço
de areia branca lavada, onde pudessem passar a noite. A
maioria dos índios dormia em redes, nunca em contato direto
com a terra.
Os Nambiquaras
praticavam a agricultura de subsistência cultivando: milho,
mandioca, o cará, as favas e a batata.
Todos seus alimentos
eram preparados em panelas de barro. Faziam excelentes
ensopados de carne de caça, frutos silvestres, grande número
de insetos, diversas larvas, formigas e répteis. Era costume
deste povo, como de muitos outros, envolver, com areia, a
carne e o peixe, de modo a assá-los em crepitante fogueira.
O pão do nambiquara era
o famoso "beiju", que era assado em larga laje. A água
era só ingerida depois de misturada com o delicioso caldo do
ananás agreste.
Com os frutos de açaí,
da bacaba e do patauá faziam uma gostosa bebida.
Da mandioca preparavam
uma broa de cor amarela e cheia de rugosidades que era com que
se alimentavam quando saiam em longas peregrinações pela
selva.
Adoravam fumar um
cigarro feito de folhas secas pulverizadas. O invólucro também
era de folha.

No ano de 1916, o
General Rondon faz referências que a população nambiquara
era de vinte mil pessoas. Esses indígenas foram também
estudados por Roquete Pinto e Murilo de Campos.
Na proximidades dos
Nambiquaras existiu um quilombo tão forte quanto o da
república dos Palmares. Africanos que fugiram das minas
organizaram tão aguerrido reduto que, para exterminá-lo, foram
enviadas várias expedições militares.
Após a derrota, os
negros procuraram abrigo nas malocas dos índios. Houve então,
um entrelaçamento de costumes e um caldeamento profundo de
sangue, o que tornou quase todos os nambiquaras cafusos.

Havia entre eles um
poderoso xamã que curava os doentes, sugando as partes
afetadas. Depois de chupar, demoradamente, as partes doloridas
ou feridas, ele retirava da boca a "coisa ruim",
arremessando-a para longe. Este é um costume herdado dos
negros cativos.
Em 1960, o vale fértil
onde viviam os Nambiquaras começou a ser cortado por uma
rodovia, projeto que foi facilitado pela FUNAI, com apoio do
Banco Mundial. Com a grandiosa obra, vieram madeireiros,
fazendeiros, mineradores e com eles, muitas doenças, contra as
quais os índios não tinham nenhuma imunidade. Dos 7 mil índios
que habitavam a região, somente pouco mais de 500
sobreviveram. E esses, foram transferidos para área Sararé.
A terra dos
Nambiquara foi tomada por outras estradas, sendo invadida a
seguir, por grandes companhias. Os remanescentes Nambiquaras
foram removidos à força para uma reserva estéril. Hoje vivem
espalhados pelo oeste de Mato Grosso do Su e sul de
Rondonia.

Despojados de seus
lares, passando fome e morrendo de gripe e sarampo, foram
socorridos pela Cruz Vermelha Internacional 1970, que se
sensibilizou com o total abandono em que se encontravam os
nambiquaras.
Ainda hoje, esses
índios são ameaçados por
madeireiros e outros colonos, que estão desmatando a floresta
e caçando os animais necessários para a sua sobrevivência.
Pergunto: "Quem pedirá
"desculpas" ao nosso índio, legítimo dono desta terra, por
mais de 500 anos, não só pela escravidão, mas também pelo
devastador extermínio destas vidas humanas?"
Eles, antes de nós,
guardam muito amor à esta Terra de seus antepassados. E todos,
somos parte integrante da grande terra chamada Pátria.

O Brasil não pode
eximir-se deste "pecado social", cometido quando apoderou-se
de terras que, já eram propriedade de fato dos índios, abandonando-os, à
desgraça, assim espoliados e ainda por cima, perseguidos por
mero preconceito.
Moralmente nosso índio
permanece abandonado no meio da selva da civilização,
encurralado, depois que o homem branco apoderou-se de suas
terras do litoral e destruiu a organização social e política
de sua civilização e cultura.
Iguais as minhas,
muitas outras palavras já foram ditas, mas muito pouco foi
feito para reerguer nosso índio, em reparação ao mal da
conquista. Mas tenho a concreta convicção, que se mais outras
palavras se somarem as minhas, em bem pouco tempo, haverá
muitos ouvidos que as escutarão e talvez eu possa então,
vislumbrar algum resultado pelo meu dedicado esforço.

CLASSIFICAÇÃO DOS
NAMBIQUARAS:
Eles são classificados
em quatro grupos, pertencentes ao tronco linguístico
Nambikwara:
NAMBIKWARA: Anunsu,
Nhambiquara.
NAMBIKWARA DO CAMPO:
Halotesu, Kithaulu, Wakalitesu, Sawentesu.
NAMBIKWARA DO NORTE:
Negarotê, Mamaindê, Latundê, Sabanê e Manduka, Tawandê.
NAMBIKWARA DO SUL:
Hahaintesu, Alantesu, Waikisu, Alaketesu, Wasusu e Sararé.
Todos podem ser
encontrados à noroeste do Mato Grosso, espalhados na
rodovia Porto Velho-Cuiabá por cerca de 300 km.
Hoje
os Nambiquaras possuem uma população em torno de
2000 indivíduos.

Texto pesquisado e desenvolvido por
ROSANE VOLPATTO


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