YAMINAHUA, MACHINERI

ASPECTOS GERAIS

 

Nome da tribo: Machineri

Família Socio-linguística: Arawak

 

Nome da tribo: Yaminahua

Família Socio-linguística: Pano

 

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Os índios Yaminahua já foram muitos e seu nome quer dizer "gente que anda pelo monte". Sua vida transcorria viajando de um lugar a outro em busca da melhor pesca e caça, mas sua principal atividade é colher castanhas.

Os Yaminahua pertencem a família Panos do Purus. Sua ocupação compreendeu três países: Brasil, Peru sobre os rios Yacu e Purus e em território boliviano sua ocupação teria compreendido: os rios Acre e Tahuamanu, abarcando inclusive o rio Beni.

Um rito importante na vida tanto dos Yaminahua, quanto dos Machineri, foi o auge e posteriormente a decadência da borracha, que provocou a dispersão desses povos.

Mais tarde os Yaminahua foram concentrados por uma missão evangélica em Porto Yaminahua no começo da década dos anos 70 e os Machineri se situavam na comunidade de São Miguel.

Eles se dedicavam a atividade agrícola, mas tinham e ainda têm, como principal fonte de renda a coleta de castanhas. Tanto os Yaminahua como os Machineri, estão inseridos no processo de beneficiamento da castanha como produtores independentes. Assim mesmo, também coletam mel e frutos silvestres. Os indígenas, são conhecidos ainda, como pescadores que desenvolvem interessantes técnicas de pesca: como a pesca com barbasco, com arco e flecha, com risgador, com canastas. Atualmente também pescam com anzol e tarrafas. Os principais peixes obtidos são: o Surubí, o Sábalo, o Pacú, o Bagre e Tucunare.

Os Yaminahua caçam com flechas, arpões, mas também usam armas. Uma das espécies que mais apetecem esses índios é o jacaré. Outras espécies frequentemente caçadas são a anta, manechi, veados, perdizes, etc.

A população indígena dessas duas tribos habitam hoje três assentamentos, mas também possuem uma população flutuante:

1. Porto Yaminahua.

2. São Miguel de Machineri.

3. Barrio Mapajo em Cobija.

4. População flutuante de Yaminahuas.

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HISTÓRIA DOS YAMINAHUAS

O território tradicional dos Yaminahua era uma região da selva, onde está a cabeceira dos rios Juruá e Purus na Amazônia peruana. A região permaneceu inexplorada até o fim do século XIX. Com o auge do Ciclo da Borracha, toda essa zona se encheu de seringueiros, que quase exterminaram os Yaminahua.

Em 1871, a população não nativa nessa área era de 2.000 pessoas, enquanto que em 1902 está cifra cresceu para 80.000 habitantes, situação que fez os Yaminahua perderem seu território ancestral e fugirem para as selvas virgens, inacessíveis aos despreparados invasores.

Entre 1915 e 1940, existiam pequenas populações Yaminahua que ainda mantinham contato com a povoação mestiça em Purus, mas eram bem poucos. Na década de 50-60 do século XX, muitos começaram a sair dos afluentes dos rios maiores e foram, aos poucos, ingressando no território boliviano, enquanto que sua parcial evangelização é mais recente.

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ORGANIZAÇÃO POLÍTICA E SOCIAL YAMINAHUAS


As sociedades da família linguística Pano como os Yaminahua, por exemplo, se organizam metades patrilineares e exogâmicas, efetuando as alianças sociais em torno de grupos de descendência, integrando os indivíduos ao nascer, de acordo com o grupo a que pertence seu pai. O casamento se dá necessariamente entre pessoas de metades opostas e obriga o varão a viver junto do sogro para que esse preste serviços e apoio político.

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HISTÓRIA DOS MACHINERI

Os Machineri, igual aos outros grupos Aruauak são descendentes de populações que migraram do Amazonas Central dos rios Yurua, Purus, Acre, Madeira, Yaco, Mãe de Deus, entre os anos 3000 a 500 a.C.

Os primeiros contatos com o homem branco, foi na época do auge da borracha, quando foram invadidos seus territórios tradicionais dos povos indígenas da amazônia, sendo muitos deles, escravizados ou desaparecidos nos montes.

Os contatos pacíficos, no século passado, foram muito poucos e se davam na realização de troca de produtos com os indígenas.

Atualmente os Machineri são encontrados no Peru, Brasil e Bolívia.

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ORGANIZAÇÃO SOCIAL E POLÍTICA DOS MACHINERI


 

Os Machineri, segundo o pesquisador Alvarez Lobo, estão organizados em classes matrilenares, que lhes atribui um modelo de casamento entre primos cruzados. Porém, o autor Gow, nos diz que um fator importante para a escolha de um conjugue é a diferença social entre os indivíduos.

Mesmo assim, acrescenta o autor, em muitas comunidades o parentesco não é um critério para eleição do conjugue, entrando em polêmica com Alvarez Lobo sobre esse ponto. Segundo recentes informações, esse critério foi válido no passado, porém atualmente, é considerado como incesto.

Com respeito a residência pós-matrimônio, na maioria dos casos é matrilocal, entretanto não existe uma regra específica para ser cumprida por todos. O casal, logo que pode, constrói sua própria residência, que pode ser bem longe dos sogros. Não há compromisso com os sogros, mas espera-se que os respeite. Geralmente, são os pais da noiva que ajudam o casal para que possam obter a própria chácara, porém o produto vendido dela, deve repartir com o sogro e os cunhados. Vemos aqui, uma forma de investimento, visando lucros futuros.

A sogra é uma mulher muito respeitada e é proibido conversas com risos com ela. Há uma atitude de reverência para com a sogra. Segundo Alvarez Lobo, quem algumas vezes toma o lugar do pai nesse sistema é o irmão da mãe.

Estabelecem-se também, grau de parentesco entre compadres, pois é o compadre que corta o cordão umbilical do recém nascido.

Nos últimos anos houve um acréscimo populacional. Existe ainda, uma grande migração desses índios entre a Bolívia e o Brasil, que alternam estadias periódicas em ambos países, pois os jovens migram para estudar, trabalhar ou prestar serviço militar. Essa parte da população, geralmente não regressa para tribo.

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MACHINERI NA BOLÍVIA

Os Machineri chegaram a Bolívia na década de 80, criando a comunidade de São Miguel com uma população de 450 habitantes. Muitas dessas famílias retornam logo para o Brasil, já que aqui lhes é mais facilitada a produção e comercialização.

Atualmente, o chefe da comunidade Machineri leva o nome de "tushaua" e é quem organiza as reuniões e trabalhos da comunidade.

Existem tão somente hoje, em torno de 29 famílias entre Yaminahua e Machineri no território boliviano.

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RELIGIÃO MACHINERI


 

A principal característica vinculada com seu sistema simbólico é a recriação de mitos e contos tradicionais, particularmente dos vinculados com o animismo. Essa característica reforça o valor e a importância do "curandeiro", ou "xamã", que realiza suas práticas com base na medicina natural.

Apesar dos esforços coletivos, as sabedorias ancestrais dos Machineri foram se perdendo, como conseqüência da doutrina da religião cristã ou evangélica, que via a religião indígena como bárbara e demoníaca. É lógico que a visão cristã não poderia tolerar outra experiência de fé e principalmente aquela que possui corajosos Deuses Guerreiros que não podem, nem aceitam ser subjugados.

O Deus cristão, trazido e imposto pelos jesuítas missioneiros e colonizadores, saiu-se vitorioso porque seus defensores eram mais poderosos. De modo, que os indígenas, a princípio, foram obrigados a reconhecer a superioridade do Deus cristão. Não porque proclamasse uma mensagem superior, mas pela força militar a qual se impunha.

Sabemos que a Coroa Portuguesa pensava mais nos aspectos comerciais e econômicos da colonização, por isso, essa prioridade de evangelização se explica como uma ideologia para justificar a conquista.

A própria decisão de Portugal para trazer os negros para a colonização do Brasil teve o seu aspecto religioso, porque visava não atrapalhar o trabalho dos padres na evangelização dos índios, como concluiu o Padre Vieira.

Os Machineri, do lado boliviano não estão cristianizados, porém a Missão Evangélica Suíça já tem planos para integrá-los a congregação de Porto Yaminahua.

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RELIGIÃO YAMINAHUA

 

Existe uma divisão entre os Yaminahua, que são: evangélicos ou não evangélicos, crentes e não crentes. Os crentes se dividem em batizados e não batizados. Emergem rivalidades entre ambos, já que os crentes acusam os outros de bêbados e de estarem perdidos, em mãos do demônio. Já os não crentes, dizem que os evangélicos são aproveitadores, também os crentes acusam os não crentes de serem os causadores dos castigos de Deus, mandando doenças e os não crentes acusam os evangélicos de adoecê-los com seus medicamentos desconhecidos. Entretanto, em épocas de crises e epidemias, evangélicos e não evangélicos voltam-se para suas práticas mágico-religiosas.

Se diz que a sucuri é a principal divindade dos Yaminahua, mas também consideram as víboras como reencarnações de seus antepassados, por isso jamais matam uma sucuri ou uma víbora, salvo extrema necessidade.

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ADORNOS E VESTIMENTAS RITUAIS

Hoje há mulheres que continuam se pintando em forma de zig-zag em seus rostos, "para parecer mais bonitas", linhas que de certa forma se assemelham ao aspecto de víboras. Na comunidade de Porto Yaminahua, o curandeiro ou xamã, extrai as enfermidades chupando a zona afetada, depois de ter consumido ayahuasca (Banisteriopsis Caapi). A ayahuasca é a bebida que normalmente usam para atos rituais.

As mulheres, elaboram para os rituais a "cushma" (túnica, similar ao poncho, pode ser curta ou longa), uma bata fechada dos lados, que apresenta uma complexidade excepcional de desenhos geométricos em linhas verticais e com uma abertura vertical para os homens. A decoração das linhas é pintada geralmente, em tons escuros de marrom, ocre e preto. Os homens colocam o "cushma" direto sobre o corpo e não usam calçado. A mulher usa uma saia enrolada na cintura com comprimento até o joelho com os mesmos desenhos da cushma" masculina, só que as linhas desenhadas são horizontais. Normalmente ficam com o busto descoberto. Tanto homens como mulheres adornam-se com colares, pulseiras, braceletes, confeccionados com sementes de várias cores e formando desenhos geométricos semelhantes aos dos tecidos. Alguns levam ainda tatuagens feitas com urucum e jenipapo (fruto em estado verde é usado para tingir o corpo e o tecido).

Texto pesquisado e desenvolvido por

ROSANE VOLPATTO

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