ÍNDIOS DO ACRE

A história do Acre é aureolada pela glória de
façanhas que exigiram de seu povo coragem e bravura. Conhecer estes pioneiros,
intrépidos devastadores das selvas, é visualizarmos um pouco mais de nós
mesmos.
O processo de incorporação do
Acre ao Brasil decorreu do desbravamento de populações do Nordeste, que o
povoaram e o fizeram produtivo. Foram as secas nordestinas e o apelo econômico
da borracha - produto que no final do século XIX alcançava preços altos nos
mercados internacionais - que motivaram a movimentação de massas humanas
oriundas do Nordeste, para esta região amazônica.

O Acre é o maior produtor brasileiro de borracha, com
2,7 mil toneladas por ano, e de castanha-do-pará, com quase 10 mil toneladas
anuais. Sozinho, o estado responde por um terço
da produção de castanha de toda a Região Norte e por metade da de
borracha.
As primeiras correntes migratórias, se
dirigiram para os vales do Purus e do Tamauacá, no rastro da borracha, já
conhecida pelos índios desde tempos imemoriais. Foram os índios campeba que
ensinaram as demais nações com extrair e utilizar o "leite da seringa". Esta
célebre goma, chegou a ser considerada o "ouro da Amazônia".

A presença de sertanistas brasileiros
nesta região, que, pelos tratados de Madri (1750) e de Santo Ildefonso (1777),
pertencia a Bolívia, implicou na elaboração de um acordo entre os dois países
(Brasil-Bolívia). Pelo Tratado de Ayacucho (1867), a fronteira entre os dois
países ficou fixada pela confluência dos rios Beni-Mamoré, no rumo do
Leste.

O Tratado de Ayacucho, planejando
resolver a intrincada questão de limites, “acabou dando margem a uma outra
questão: a do Acre, pertencer ou não, ao Brasil”.
Mas o grande alvo de disputas em
relação ao Acre, pelo Brasil e a Bolívia era, indubitavelmente as seringueiras.
O beneficiamento do látex teve papel preponderante na marcha da industrialização
mundial, no alvorecer do século XIX. Em função disso, a Bolívia firma uma série
de posições em defesa de sua soberania.
Em 1899, o Acre foi proclamado um
estado independente pelo aventureiro espanhol Luiz Galvez, um ex-funcionário do
consulado boliviano em Belém do Pará, financiado por um grupo de seringalistas e
pelo próprio governo do Amazonas. Em forma de protesto, em 1901, a Bolívia cede
a área a um grupo norte-americano, que fica encarregado de sua colonização e
exploração da borracha, em troca de auxílio militar e econômico ao país.
Formou-se a Syndicate of New York.

No plano político então, intervêm o
Congresso brasileiro e propõem em represália a ruptura das relações comerciais
com a Bolívia, ocorrendo a suspensão das navegações entre os dois países. Eis
que surge, o gaúcho de São Gabriel, José Plácido de Castro (1873-1908, Ex-aluno
da Escola Militar de Porto Alegre), um agrimensor estabelecido há anos na
região, que arregimenta, em 1902, alguns grupos de seringueiros e toma
Xapuri.
Em 1903, ocupam Puerto Alonso e mais
uma vez, proclama o Estado Independente do Acre. O tratado de Petrópolis
assinado em 17 Novembro 1903, pôs fim às querelas. A Bolivia, renunciava as suas
pretensões sobre o Acre em troca de uma indenização de dois milhões de libras
esterlinas e, o Brasil obrigava-se também, a construir a Estrada de Ferro
Madeira-Mamoré.
Em 1904, por decreto do presidente
Rodrigues Alves, torna-se um território federal, dividido em três departamentos:
Alto Acre, Alto Purus e Alto Juruá, cujos prefeitos são nomeados pelo governo
federal. Em 1920, a administração centraliza-se em um governador, nomeado pelo
presidente da República.

O declínio da extração da borracha
acarretando a estagnação da economia, aceleram o processo de exploração da
madeira, devastando a floresta Amazônica. O território só retoma as rédeas da
economia nos anos de 40 e 50 com a ajuda de recursos enviados pela União. Em
1962, tendo em torno de 200 mil habitantes, torna-se estado, pois sua
arrecadação atingia os valores necessários para tanto, estabelecidos pela
Constituição de 1946.
No Acre, ainda
hoje, há crescimento da economia, essencialmente extrativista e dependente das
culturas de subsistência, como mandioca, arroz, feijão, milho e banana. Em 1988,
com o assassinato do seringueiro e líder ambientalista Chico Mendes, a questão
da defesa de um modelo de extrativismo que não destrua a floresta ganha
repercussão mundial.

O nome Acre origina-se de Áquiri, forma
pela qual os exploradores da região transcreveram a palavra Uwákuru, do dialeto
dos índios Ipurinã.
O Acre é o único estado compreendido no
quinto fuso horário em relação à Greenwich, com duas horas a menos que o horário
oficial de Brasília, sendo também a última região a ser incorporada ao
território brasileiro.

PRIMEIROS HABITANTES..

As tribos habitantes do Acre são principalmente dos troncos
Pano e Aruaque (Aruak).
Ao Pano pertencem os Kaxinawás, Yawanawás, Poyanawás,
Jaminawás, Nukuinis, Araras e Kaxararis.
Ao tronco Aruaque pertencem os Kulinas e os
Kampas.
Também são habitantes na área atual do Acre os Katukinas, os
Machineris e alguns grupos isolados sem contato. Os índios vivem da caça, pesca,
agricultura e do extrativismo.Os rituais de alguns povos indígenas na área do
Acre são acompanhados com a ingestão da "Ayahuasca" ou "Yagé", uma bebida
alucinógena feito de certos cipós e folhas
No inicio do século XVI seriam cerca de 6 milhões,
atualmente são cerca de 315 mil. Calcula-se, que desde então, tenham
desaparecido cerca de
900 etnias. Atualmente existem apenas
206 etnias, distribuídas por 562 terras indígenas, contando com cerca de 315.000
índios. Falam perto de 170 línguas. No Amazonas habitam mais de 55
povos isolados. Na sua maioria os índios estão concentrados, nos Estados dos
Amazonas, Acre, Roraima, Rondônia, Mato Grosso e Pará. Os seis maiores povos
índios:
1.Guarani (sub-grupos Kaiowá, Nandeva e Mbyá): 30 mil
;
2.Ticuna: 23 mil ;
3.Kaingang: 20 mil ;
4.Macuxi: 15 mil ;
5.Guajajara: 10 mil ;
6.Yanomami: 9.975 mil (dados de 2001).

KAXINAWÁ OU KAXINAUÁ
Em
águas do (aldeias no Peru): Juruá, Curunja,
Embira; (aldeias no Brasil):
Tarauacá,
Jordão, Breu, Muru, Envira, Humaitá e Purus, vivem
os Kaxinauá e seus parentes.
Sua população é de cerca de seis mil pessoas
vivendo em meio à floresta tropical desde o leste
peruano até o Acre.
Embora seja
aceita a denominação de Kaxinawá
(palavra
constituída de Kaxi ‘morcego’, nawa
‘gente’, forasteiro’), a auto-identificação é
Huni kuin (palavra constituída por huni
‘homem’, kuin ‘verdadeiro’), em oposição
à huni kuinman ‘homem não verdadeiro’, nome
usado para referir-se a todo aquele que não são
Kaxinawa. O nome alternativo a huni kuinman
é nawa. O vocábulo nawa é usado
pelos próprios povos pano e podem fazer referência
a uma pessoa ou a qualquer grupo de pessoas que
partilhem uma característica comum.
Todos os povos
que ficam sob a denominação Huni kuin são
tratados como parentes, ou seja, nabu
‘parente’; mas apenas os estritamente
identificados como Kaxinawa são chamados nabu
kuin ‘parentes verdadeiros’. Outros povos pano
são considerados nabu betsa ‘lit. os outros
parentes’ < betsa ‘outro’, ‘diferente’.
O povo Kaxinawa fala uma língua do mesmo nome ou
hancha kuin ‘palavras verdadeiras’. Ela faz
parte da família lingüística Pano, família essa
constituída por aproximadamente 30 línguas e que
são faladas nas regiões amazônicas do Peru, Brasil
e da Bolívia. Na classificação interna da família
Pano, o Kaxinawa é alocada como língua Pano do
Sudeste ou Pano das Cabeceiras paralelamente às
línguas Iskonawa, Amawaka e as Pano-Purus (Jaminawa,
Xaranawa, Marinawa, Mastanawa, Jawanawa, Xaninawa)
(cf. d’Ans 1973).
A população indígena Kaxinawá é a mais numerosa do
Acre, representando 43% do total de indígenas do
Estado. Apesar do constante contato com os
"brancos", a identidade cultural dos Kaxinawá é
preservada e muitos de seus conhecimentos são
mantidos sob sigilo como a língua, medicina
natural, diversas festas, pintura e artesanato.
LEIA MAIS.....
http://www.rosanevolpatto.trd.br/indioskaxinauas.html
No Acre, os Ashaninka e os Kaxinauá, que já
participam ativamente da vida política do estado e até debatem a criação do
Partido Indígena Brasileiro. A presença dos índios na política é crescente e as
organizações indígenas acreditam ser um dos caminhos para as comunidades lutarem
pelos seus direitos.

OS MASHCOS
(conhecidos hoje pelo nome de Harakmbu)

Os Mashcos (nus)
são uma das inúmeras tribos que campearam o rico Acre (tempo em que o território
peruano se estendia até o rio Madeira no Brasil) e lutaram com muito vigor
contra os usurpadores de seus pagos. São índios de cor morena, altos, que
costumavam raspar a cabeça com a taquara e por esse motivo eram denominados "os
calvos".
Disse o erudito
Estevão Pinto no seu interessante livro "Os indígenas do Nordeste", o seguinte,
acerca desse toucado ou penteado:
" Não há negra
que o toucado, ou penteado, é um traço cultural importante, que supõe uma
técnica mais ou menos complicada. Os Jês caracterizavam-se pelo uso da cabeleira
"em forma de prato", segundo a expressão de Ehrenreich. Com a taquara raspavam
circularmente a base do crânio, acima das orelhas, de modo a deixar apenas uma
espécie de calota, que lembrava um pouco a tonsura de alguns monges
franciscanos."
Os Mashcos foram
praticamente exterminados pelo Barão da Borracha, "Carlos FITZCARRALD"(1892), e
pelos caucheiros, que bem armados, foram, à força da bala, escorraçando os
pobres índios.
O primeiro
contato com o Barão da Borracha foi muito curioso, pois ao tentar demonstrar as
vantagens da aliança, um mascho perguntou-lhe que tipo de flechas trazia. E
Fitscarrald entregou-lhe,
sorrindo, uma cápsula de Winchester.
"O
selvagem examinou-a, longo tempo, absorto ante a
pequenez do projétil. Procurou, debalde, ferir-se,
roçando rijamente a bala contra o peito. Não o
conseguindo, tomou uma de suas flechas; cravou-a,
de golpe, no outro braço, varando-o. Sorriu, por
sua vez, indiferente à dor, contemplando com
orgulho o seu próprio sangue que esguichava... e
sem dizer palavra deu as costas ao sertanista
surpreendido, voltando para o seu tolderío
com a ilusão de uma superioridade que a breve
trecho seria inteiramente desfeita. Meia hora
depois, perto de cem mashcos, inclusive o chefe
recalcitrante e ingênuo, jaziam trucidados sobre a
margem, cujo nome, Playa Maschos, ainda hoje
relembram esse triste episódio."
Hoje, os Mashcos,
formam um povo silvícola caracterizado como uma das principais tribos arawakas.
Atualmente não chegam a 2000 e grande parte estão já civilizados.

Texto pesquisado e desenvolvido por
ROSANE VOLPATTO

CRONOLOGIA BÁSICA:
1752 - Surge Vila Bela, às margens do rio Guaporé.
1850 - Várias expedições percorrem por essa fase o atual território acreano,
alcançando os rios Purus, Acre e Tarauacá.
1867 - Assinatura do Tratado de Ayacucho com a Bolívia.
1873 - Nasce em São Gabriel, Rio Grande do Sul, José Plácido de Castro,
assassinado por desafetos políticos, em Benfica, Acre, em 1908.
1873/1874 - Devido aos seringais, a população da bacia do Purus aumenta de
mil para quatro mil habitantes no espaço de apenas um ano.
1878 - Primeira referência direta ao vocábulo Acre ou Aquiri, em
correspondência enviada do rio Purus pelo colonizador João Gabriel de Carvalho
Melo.
1890 - Há notícias de mais de 300 seringais ocupados por brasileiros somente
na bacia do Juruá.
1899 - Início das ações armadas por parte de brasileiros no atual Estado do
Acre, então sob domínio boliviano (abril).
1900 - Campos Sales extingue a efêmera República Acreana do aventureiro Luiz
Galvez (março).
1902 - Tropas de Plácido de Castro ocupam a vila do Xapuri (agosto).
1903 - O Brasil indeniza Bolívia em 2 milhões de libras esterlinas, que
assume o compromisso de desistir de qualquer pretensão territorial sobre o Acre
(fevereiro).
1904 - Plácido de Castro é nomeado governador do Acre Meridional (21/4).
1907 - O território do Acre iguala-se aos Estados do Pará e Amazonas na
extração de borracha.
1909 - Assinatura de um Tratado com o Peru completa a integração do Acre ao
território brasileiro.
1913 - Início do declínio da extração da borracha brasileira, cujos preços
caem no mercado internacional.
1920 - Unificação do Acre, até então um território dividido em três
departamentos.
1934 - O Acre adquire o direito de eleger representantes junto ao Congresso
Nacional.
1962 - O Acre é elevado à condição de estado (15/6).
1988 - Assassinato, em Xapuri, do líder seringueiro Chico Mendes.
1996 - Recaptura de Darci Alves Pereira, assassino de Chico Mendes.

BIBLIOGRAFIA:
Índios do Brasil - Lima
Figueiredo; Livraria José Olympio Editora; SP; 1949
Na Planície Amazônica -
Raymundo Moraes
Primeiros povoadores do Brasil
- J. F. de Almeida Prado
Moronguêtá - Nunes Pereira

Shamans of the amazon
www.renarg.org
Canção Kaxinawá em
Português
www.renarg.org
 


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