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O LIVRO DO
BARRO
A cerâmica é a mais antiga de
todas as indústrias. Desde os primórdios dos tempos, o homem se utiliza do
barro endurecido para produzir utilitários domésticos.
A cerâmica utilitária
substituiu a pedra trabalhada, a madeira, as vasilhas feitas de frutos
(cocos) ou de cascas (cabaças, porongos, etc).
CERÂMICA PRÉ-COLOMBIANA
As tribos ceramistas brasileiras
foram várias, mas a cerâmica artística, bem poucas. Só no longínquo território
do Amazonas, existiu três grupos étnicos que se dedicaram a tal arte. Entre eles
o mais interessante foi o do Pascoal, pequiníssima ilha artificial, construída
no lago Arari, na grande ilha de Marajó, espécie de sentinela colocada bem a
boca do estuário amazônico.
Ainda não tinha estado por estas
águas nem Colombo, muito menos Cabral, nenhum cavaleiro das arrancadas do ciclo
de navegação e já diversas tribos se fixavam nestas áreas restritas e diversas
de nosso território.

Por um singular destino foi a
região das águas e das matas tropicais do Amazonas que recebeu tribos migradoras
que conduziam o sentimento da arte. Vieram de regiões distantes e estavam no
gozo de uma cultura que muito as distinguia das tribos normais brasileiras. E,
caminhando pelos altos rios, estradas naturais da região, os impeliu pela corda d'água principal abaixo até a ilha onde se localizava as tribos "aruan" do grupo
"nu-aruak", às quais se atribui a cerâmica de Marajó, na pequena ilha lacustre
do Pacoval, lugar onde a arqueologia brasileira encerrou suas utilidades mais
belas. Outro grupo fixou-se em Tapajós e presenteou à arqueologia satarena com a
beleza de peças zoomorfas de feições ornamentais, que lembra muito a arte
chinesa antiga. Um outro, desviou-se da rota e subiu a costa do norte indo
situar-se no rio Cunani.
Foram estes três grupos os
criadores da cerâmica oleira, extremamente preocupados com sua beleza. Estes
núcleos acusam uma evolução referente à capacidade sensorial. Estes indígenas
vibravam com a natureza e expressavam seus sentimentos e emoções através da
arte. Na cerâmica se eternizou estas profundas impressões vindas do
inconsciente, impingidas pelo ambiente belo e exótico da Amazônia.
Raimundo de Morais, glorioso
escritor, desvendador dos segredos da Amazônia, não se cansava de acentuar que:
"Dentro de toda a barbaria, natural do estado primitivo em que se encontrava o
"Homem do Pacoval", o que mais se lhe destaca, rodeando-lhe a figura singular é
o traço de beleza que o atraía; é a nota delicada do artista plástico namorando
as formas e cores. Sem exagero, esse vulto curioso foi, no meio das malocas
estranhas de outras tribos e de outros povos que o envolviam no vale, um raro
esteta."
A peça mais delicada e perfeita
já encontrada foi a "tanga" em cerâmica, objeto de culto totêmico,
exclusivamente marajoana, que possuía finalidade cultural. A tanga era uma
utilidade feminina modelada com um pronunciado sentimento artístico, para ser
usada em cerimoniais religiosos, portanto, conclui-se que as mulheres desta
tribo tinham participação nos rituais. Acredita-se também, que prende-se ao
período do matriarcado que interpunha a sua cultura entre às culturas andinas
anteriores ao período do cacicazo. Não tinha nenhuma ligação com a questão do
pudor, que não existia entre estes grupos.
Estas tangas eram usadas
possivelmente por sacerdotisas revestidas de uma misteriosa mística, exercendo
poder e fascinação sobre os deuses e os homens. E, então, como atavio, em
momento propício, estas semi-deusas, cingiam a tanga feita de barro, trabalhada
e decorada com as mais delicadas cores, elevando seus pensamentos e oferendas às
suas crenças. A beleza desta peça, já levou alguns à devaneios e à comparações
pitorescas, onde a tanga aparece como folha de parreira das Evas de Marajó.

Algumas tangas
foram encontradas atadas às urnas funerárias femininas. Todas apresentavam
formato triangular, superfície abaulada, com lados curvos. Apresenta também,
furos nos vértices, onde conclui-se serem por onde eram enfiados fios de
algodão para possibilitar sua amarração. A tanga faz parte da tradição
ceramista policrômica da fase Marajoara e todas as peças encontradas nunca
apresentaram desenhos repetidos. O mais importante acervo desta arte
encontra-se no museu Emílio Goeldi.
Na Índia, a tanga triangular era
utilizada como oferenda a Ione, a Deusa da Maternidade. Já na Colômbia foram
encontradas gravuras de tangas rudimentares em oferenda a Banchue, a Mãe dos
Homens.
As milhares peças de barro criadas
pela civilização marajoara equivalem, a um grande Livro de Barro. Neste Livro,
no entanto, o artista que o enfeitou, só evoca a beleza adventícia, paragens
estranhas, hábitos e costumes, completamente desconhecidos entre os pobres
remadores de ubás da ilha de Marajó. A sua louça, superior à todas do vale, os
seus hieróglifos, gravados e pintados nos vasilhames, suas tangas, urnas
funerárias, todos os sinais enfim, de uma civilização egressa de longe,
remarcavam-lhe a primazia entre os demais índios da planície.
CERÂMICA SANTARÉM
Fora de Marajó, a arte da
cerâmica desenvolveu-se em belos artefatos com evidente gosto artístico, nas
terras próximas a Santarém (cerâmica tapajônica). Aqui o indígena elaborou
algumas das suas melhores florações, criando tipos ricos na forma e beleza, não
devendo nada para as peças orientais.
Encontrada
com abundância na cidade que lhe deu o nome e em
sítios próximos à mesma, a cerâmica é de boa
modelagem e apresentação. A primeira referência
que se conhece sobre a cerâmica tapajoara foi
enunciada pelo Padre Carvajal, sendo muito
estranho que haja caído em desuso, permanecendo
ignorada por tanto tempo, até seu aparecimento,
devido ao achado de dezenas de peças, em uma rua
de Santarém, durante um violento temporal. O
grande divulgador da arte tajoara foi Curt
Nimuendasú, que reuniu as coleções dos museus "Goeldi"
e de "Gotemburgo".

Existia a
preocupação de produzirem desenhos zoomorfos, com extravagantes efeitos
extraídos dos elementos da composição animal. Quelônios, pássaros e outras
espécies, são utilizados como modelos da cerâmica, cuja moldagem toma a
estrutura do animal, em vez de usá-lo somente nas pinturas. Tornaram-se
portanto, além de ceramistas, escultores, que não só se sensibilizavam, mas
sentiam a beleza da forma, sem se excederem nos tons e cores.
A cerâmica Tapajônica, ou de
Santarém, não desfrutou do mesmo interesse dedicado à Marajoara, por parte dos
estudiosos, mas tinha uma modelagem marcante, que lembrava o estilo barroco.
Evidencia-se em todas as peças encontradas, uma predileção pela fauna regional e
é este realismo animalista, um dos elementos que a diferencia da cerâmica
Marajoara. Outra diferenciação é que nesta tradição ceramista não existia urnas
funerárias, pois seus mortos não eram enterrados. Os ossos dos cadáveres eram
moídos e postos no vinho, para serem "bebidos" pela tribo.
Já a tribo que habitava o Cunani,
havia o predomínio da cor, sem haver tanto interesse artístico na composição da
forma. Essas cerâmicas apresentavam-se pintadas de vermelho sobre um fundo
branco, sendo de excelente cocção e ótimo acabamento.
A cerâmica
Cunani, já foi apontada como originária da
Colômbia, com o que não concordam Betty Meggers
e Clilifford Evans, que consideram as
semelhanças apontadas como resultado de
paralelismo cultural.
A cerâmica de Marajó, segundo
alguns arqueologistas se prendia à da península de Yucaton, da América Central,
enquanto que a de Santarém se aproximava a de certos modelos Maias. Já a de Cunani se aproximava às tribos guaranis, que se acredita terem tido contato com
os oleiros da região andina da Bolívia. Toda a cerâmica produzida nestes três
centros arqueológicos revelam sensíveis qualidades de sentimento artístico,
dignos até hoje de comovida admiração.
É inegável, que a presença destas
salvadas peças de cerâmica que os arqueólogos beneméritos puseram ao alcance de
todo aquele que gosta de ler esse generoso "Livro do Barro", verifica-se que a
plástica desse povo foi, portanto," não só o elemento irradiador da inteligência
desse aborígene, animada pelos símbolos indecifráveis, como ainda o documento da
sua superioridade social naqueles idos, em que o caciquismo era forma tosca do
governo em quase toda a América do Sul." A argila que se transformava em panela
e vestimenta, em conta e cachimbo, em maracá e ofertório, não traduzia apenas o
estado do oleiro, o sentimento isolado do artífice, ou mesmo da família, da
tribo, mas da gente, do povo e da nação. Além da louça doméstica, reveladora do
lar, as peças decoradas descobriam o estado religioso do modelador, o seu
folclore, o seu modo de caçar, pescar, navegar e lutar.
ARQUEOLOGIA
AMAZÔNICA

A arqueologia
amazônica é a cerâmica: a de Marajó tão rica nos detalhes da sua morfologia;
a cerâmica bizarra e caprichosa de Maracá; a singela e trabalhada de Cunani
e a depositada à flor do solo, em Santarém. Toda esta arte oleira, ainda
hoje elaborada pelas tribos amazônicas, constitui o mais rico material
arqueológico da planície, guarda o segredo das origens do homem que a
construiu e este mistério é em problema que ainda se encontra em aberto no
terreno da arqueologia. Nem naquele século, muitos menos na atualidade
existiu tribo que estivesse com a posse de tão aprimorados dons. Toda a
cerâmica produzida hoje, difere em qualidade, habilidade e perfeição dos
quatro modelos apontados.
Os estudos realizados com o
material até o momento coletado, tem servido para assinalar, no tempo e no
espaço, a profunda diferença que distingue as culturas oleiras atuais
daquelas que constituem o nosso principal monumento de arqueologia.
CERÂMICA
DE MARACÁ
A
cerâmica de Maracá, que a arqueóloga Betty
Meggers considera originária do Equador, ainda
se encontrava em uso depois da descoberta do
Brasil pelos portugueses.
Tendo
sido descobertos tais frutos de uma cultura
nativa, por Ferreira Penna, que não as
considerou de maior importância, elas foram
estudadas, posteriormente por Frederico Baratta,
que concluiu representarem tais peças um estágio
importantíssimo nas culturas amazônicas e que
deveriam estar em uso por bastante tempo, antes
dos descobridores da região, continuando
utilizadas sem maiores modificações após o
domínio destes, por mais cinqüenta anos.
De forma
semelhante às cerâmicas de importância
encontradas no Brasil, a de Mracá também era de
uso funerário, podendo-se destacar três tipos
principais:
1. Meros
cilindros com tampas, produzidos sem decoração
ou pintura.
2. Peças
antropomorfas, sempre ostentando a representação
do sexo do defunto, pintadas com linhas
paralelas ou zig-zag, sendo utilizadas as cores
pretas, branca, amarela e vermelha.
As urnas
contêm sempre um esqueleto completo, constando,
sempre um sepultamento secundário.
O
acabamento da cerâmica de Maracá é razoável,
sendo que o anti-plástico mais usado consiste na
própria areia e em alguns casos, as cinzas de
caraipé.
Embora não
apresentem a qualidade do material encontrado no
Monte Pacoval, as urnas de Maracá são muito
superiores ao que faziam as tribos Tpi,
acreditando-se que tivessem, possivelmente, sua
origem no Caribe, podendo ter sofrido influência
Tiuhanacota, o que é consubstanciado pelas
representações de felinos nas peças zoomorfas.
A CERÂMICA DE
NORTE A SUL
CERÂMICA
CADIUEU
Os índios Cadiuéu são
descendentes dos famosos Mbaya-Guaicurus, "Índios Cavalheiros do Pantanal",
famosos por seu passado guerreiro. Vivem na serra da Bodoqueira, entre Bonito e
Jardim, no Mato Grosso do Sul.
São muito conhecidas as oleiras cadiuéu. Elas produzem um trabalho muito elaborado e bem decorado, com riqueza
de formas. Para a produção da cerâmica há uma perfeita divisão de trabalho. O
homem é encarregado de buscar o barro nas minas ou nas beiras dos riachos.
Procuram também madeira para queimar os materiais que dão as tintas.
As índias retiram as impurezas do
barro. Misturam, em dosagem exata, as cinzas de determinadas madeiras e temperam
o barro na consistência desejada. Usam a técnica dos rolos sobrepostos. Formam o
fundo da peça no tamanho desejado. Depois vão sobrepondo os rolos, ajeitando e
modelando para formar o resto da peça. Com uma cuia cheia de água vão e colocam
a peça para enxugar na sombra.

A peça é colocada
para secar ao
vento ou no calor
do sol. Em
seguida, inicia-se
a pintura. A
variedade dos
desenhos
ornamentais
aplicados as peças,
constituem-se em
riscos à mão livre,
traçados com o
auxílio de um
cordão feito de
gravatá, formando
sulcos na
superfície da peça.
São linhas retas,
curvas, paralelas,
degraus de escada,
espirais, ornatos
em zigue-zague e
outras variantes.
A fama do grafismo dos índios Cadiuéu
já corre à Europa. Os mesmos desenhos geométricos usados na decoração das
cerâmicas são aplicados no corpo dos índios por ocasião das festas e rituais.
OS LILICÓS, OS BONECOS CARAJÁ

Entre os povos que vivem no
Tocantins, os Carajá, são os únicos que produzem cerâmica. A maioria dela é
utilitária, potes para colocar água ou caluji (bebida consumida durante as
festas) e as urnas funerárias para enterrar os mortos. Mas também produzem
bonecos chamadas de lilicó, que fazem parte de sua tradição.
As ceramistas utilizam o
barro branco retirado, na época de estiagem, dos barrancos do rio Araguaia. Misturam-o às cinzas da árvore "Cega Machado" e depois é colocada para secar
no sol. O cozimento do objeto é realizado em um forno coberto com pedaços de
lenha.
Licocó na linguagem carajá
significa boneco. A arte de fazer bonecos era ensinada as meninas carajás
enquanto que suas mães ocupavam-se com a cerâmica utilitária.
Os lilicós são feitos de acordo
com o ideal de beleza carajá, por isso as nádegas das bonecas são muito grandes.
Representam, geralmente, mulheres grávidas, com grandes seios, pois este é o
ideal da menina carajá, crescer cheia de formas, ser fértil e ter muitos filhos.
Aos bonecos são acrescentados
enfeites de algodão, colares de sementes, casas de caracol perfuradas e um fio
de borla preta. Na bonecas colocam uma faixa na cintura feita de entrecasca de
árvore, tão fina quanto um pano. O tamanho médio dos lilicós é de 20
centímetros. Atualmente estes bonecos são muito apreciados por turistas que
visitam a ilha de Bananal.
GUERRA DA CERÂMICA
A criação do Parque Indígena do
Xingu, obra dos irmãos Villas-Boas, foi um desdobramento da conquista do Brasil
Central, feita pela expedição Roncador-Xingu que eles próprios lideram, a partir
de 1944. Lá habitam os Vaurá (Wauja) e os Iaulapiti, que são notórios pela
singularidade de suas cerâmicas.
Os iaulapitis foram numerosos no
passado, mas há meio século estavam à beira da extinção. Foi preciso que os
irmãos Villas-Boas estimulassem Kanato, agora Paru a raptar uma mulher camaiurá,
Tupiri, para que este povo começasse a renascer, somando hoje quase duas
centenas de pessoas. Os próprios iaulapiti, tiveram muitas vezes as suas aldeias
assaltadas por outras tribos que lhe roubavam as mulheres ceramistas. As outras
tribos não tinham tão qualificadas oleiras.
Os Vaurá (Wauja), segundo uma
lenda, foram o único povo a quem a Cobra-canoa teria ensinado a magia da
confecção dos objetos de barro. As índias vaurá, são verdadeiras artesãs,
destacando-se como excelentes ceramistas.
Nas panelas para mandioca ou nas tijelas bojudas fazem a reprodução dos animais que as rodeiam: tatu, tartaruga,
sapo, jacaré, peixe, arraia, urubu, etc. A beleza desta cerâmica está exatamente
na reprodução destes motivos.
Nos dias atuais, os artefatos
cerâmicos têm larga difusão dentro e fora do contexto índio, constituindo um
exemplo de integração indígena numa economia mais alargada.

A FESTA DA
CERÂMICA
Anualmente,
durante a Semana Santa, na cidade de "Nazaré das Farinha", uma cidade
situada a 56 Km de Salvador, realiza-se a "Feira dos Caxixis", tradição de
três séculos.
Caxixi é uma
palavra indígena que significa originalidade e serve para designar as peças
de argila confeccionadas na vila de Maragogipinho assim como de outros
municípios da região.
A feira atrai mais 50 mil
turistas que encantam-se com a peças trabalhadas à mão pelos artesãos.
Esta é uma festa
baiana com muita comida, beleza e alegria.
A comida feita
em uma panela de barro tem seu valor e outro sabor. Esta cerâmica utilitária
é encontrada de Norte a Sul no nosso Brasil. Não se sabe também quem lhe
deu maior influência: o índio, o negro ou o branco (europeu).
A louça-de-barro baiana é
produzida em quase todos os municípios da Bahia. Panelas, moringas, porrões,
alguidares, vasos, jarros, quartinhas, ainda são muito usados nas casas
populares. Nas cerimônias dos candomblés, por exemplo, algumas destas peças
são indispensáveis.
Na cidade de Maragogipinho, no
Recôncavo Baiano, o povo vive quase que exclusivamente da produção da cerâmica.
Na ilha de Mar Grande existem moringas d'água famosas. Nas margens do rio São
Francisco, encontramos uma cerâmica utilitária com grande influência indígena.
A principal indústria de cerâmica
utilitária está localizada em Carrapicho, que supre as necessidades de Sergipe e
Alagoas e atingindo também a Bahia.
A cerâmica não se restringe
somente à objetos utilitários, mas também se constitui de magníficas obras de
arte em barro, que dão vida e requinte à decoração interior. Estamos falando da
cerâmica figureira, destinada à enfeitar e colorir nossos olhos, digna de um
demorado olhar.
A cerâmica figureira está
nas mãos das mulheres, que sentadas no chão ou de cócoras, igual as índias,
fazem quartinhas para água, com forma de animais, moringas com figuras de ícones
atuais, baianas, etc. Há muita criatividade nestas peças, onde aparecem também
vaqueiros a cavalo, canoas, jegues, boizinhos, mealheiros, etc.
As figureiras modelam suas
obras usando barro que é amassado delicadamente com os dedos. Usam para dar
acabamento ferramentas improvisadas do tipo: estiletes, facas, palitos, hastes
de bambu etc
CUIDADO QUE O SANTO É DE
BARRO!
O costume de produzir
santos de barro foi introduzido pelos franciscanos do Convento de Santa Clara,
no século XVII, que os encomendavam às mulheres figureiras. Estas com
sensibilidade e criatividade criaram o
Pavão (também chamado de Galinho do céu), a Chuva de
Pavões, o São Francisco com os pássaros, Nossa Senhora das Flores, Nossa Senhora
de Aparecida, e muitas outras figuras.
A
idéia do presépio surgiu de São Francisco de Assis, por volta de 1223. O sucesso
se espalhou pelo mundo e a novidade chegou no Brasil em 1552 através de José de
Anchieta.
O
presépio de barro, ou "presépio caipira", como é conhecido, é composto de 21
figuras: três Reis Magos a cavalo, Jesus deitado num berço tosco, Maria, José,
Anjo da Glória, Anjo da Guarda, três pastores, uma vaca, um jumento, carneirinho
branco, gambá, galo, burro, cabrito, caçador com um cão e uma pastorinha.
É
através do "Livro do Barro", amassado e moldado por todas as sociedades que
viveram e vivem neste esplendor de pedaço de terra, que podemos ver e ler a
característica embrionária do bom gosto do nosso artesão brasileiro.
Os
modelos surgem a cada momento e enchem as galerias dos museus para enfeitiçamento proveitoso dos artistas, como afirmação eloqüente de que, desde
os primitivos habitantes destas paragens, sempre as mãos rudes do homem, foram
hábeis instrumentos que serviram para dar forma à ânsia da alma atormentada ou
insatisfeita. É através destas relíquias que reconstituímos hoje, a vida deste
tempo e desses povos.
Procure e não encontrarás, um competidor mais delicado nestes torneios
cerâmicos, um rival mais imbuído no lindo e original louceiro, das maiores
vasilhas até as mais reduzidas peças e verá logo, o fracasso da pesquisa pela
inabilidade de qualquer outro corrente.
O
ofício da cerâmica, foi passado de geração em geração. Gerações estas, que foram
se formando com o cruzamento do índio, do luso e do negro, num labor
expansionista de raças, que povoaram o território brasileiro de amor e arte.

Texto pesquisado e desenvolvido por
ROSANE VOLPATTO
Bibliografia
Consultada
Indiologia - Angyone Costa
Brasil - "História, Costumes e
Lendas" - Editora Três
Coleção História da Floresta -
Rubens Matuck. Editora Ática
Culturas Indígenas do Brasil -
Aurélio M. G. de Abreu
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