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O XAMÃ CLÁSSICO

"Quando afirmamos a
intuição, somos como a noite estrelada: fitamos o mundo com milhares de
olhos.”
Os Pajés, entre os indígenas,
sempre ocuparam o lugar de mediadores entre os espíritos e o resto da tribo.
Todavia, nem todos possuíam idêntica capacidade de sincronização com o
mundo sobrenatural e de comunicação com os espíritos. Por isso, processava-se
uma gradação nítida dos pajés, que se distinguiam de acordo com seus poderes
mágicos de que eram dotados. Encarada em uma perspectiva vertical, a carreira
do pajé consistia no desfecho da existência de um indivíduo
singularmente capaz e bem sucedido. O homem aumentava gradualmente suas forças
mágicas e seus dotes carismáticos. Quando atingia certa idade, atingia ao
mesmo tempo o "maximum", concentrando então em sua pessoa uma
quantidade apreciável de poderes sobrenaturais.

O reconhecimento desta situação
pelo próprio indivíduo e pela coletividade, abria-lhe novas possibilidades de
aplicação e de aproveitamento dos poderes de que se via dotado. Então,
passava a dedicar-se aos mistérios da "medicine-man", o que aumentava
concomitantemente o seu prestígio e as suas forças sobrenaturais. Isso era
possível graças ao princípio em que repousava a aquisição de conhecimentos
e poderes mágicos.
O indivíduo não se tornava
pajé em virtude de iniciação, mas em conseqüência da inspiração. Métraux
escreve: "todos os chefes e todos os velhos conheciam certas práticas,
podendo exercer uma ação sobre os outros ou sobre o curso das coisas". Evreux, nos revela: "não encontreis muitas aldeias, onde os principais e
os velhos não confessem saber alguma coisa dele (pajé). Os aprendizes e os aspirantes ao cargo do pajé estudavam muito, procurando aumentar seus
conhecimentos e seus poderes curativos e mágicos. Quando mereciam elogios,
estavam praticamente consagrados. Os que conseguiam curar doenças e predizer
com exatidão a época das chuvas, subiam na consideração dos companheiros.
É provável que o adestramento
básico em tais conhecimentos se processava através da linha paterna. Quando
alguém obtinha resultados positivos em curas de moléstias, logo comunicava aos
demais os métodos de cura. Os indivíduos cujas qualidades pessoais se
ajustavam melhor aos papéis de pajé, conseguiam maiores sucessos. Galgavam
então os postos mais ambicionados, realizando ações consideradas admiráveis
ou excepcionais. Tais pajés tinham poderes amplos, comunicando-se com os
espíritos, transferindo forças e poderes sobrenaturais a quem eles quisessem,
fazendo as raízes, os frutos e as plantações em geral crescerem à vontade e
as chuvas caírem em abundância. Através da fumaça do "petum",
transferiam aos guerreiros poderes novos. Assopravam a fumaça sobre o
guerreiro, exclamando: "para que vençais os vossos inimigos recebei o
espírito da força". Tinham também o direito de condenar um indivíduo à
morte, o qual consistia numa condenação verbal, aplicada à transgressores. A
vítima deitava-se em uma rede e se recusava, daí em diante, os alimentos que
lhe ofereciam. Em conseqüência da greve de fome, morria de fato.

Cabia-lhes também como
intérpretes dos espíritos antepassados, dar a palavra final sobre a
conveniência ou não de determinadas realizações, como uma expedição
guerreira. Podiam até desencadear a guerra contra os seus inimigos, por motivos
religiosos.
Compreende-se, portanto, que os
pajés, de acordo com sua categoria e prestígio, constituíam pessoas de grande
importância. As relações com os pajés podiam assegurar aos guerreiros e
chefes tribais novas oportunidades de feitos notáveis e a consecução de
objetivos altamente desejados. Em contrapartida, os pajés recebiam um
tratamento especial, que se refletia na menção honrosa nos cantos tribais e na
acolhida que lhes dispensavam por ocasião das cauinagens (Tupinambás), das
danças ou em qualquer outra cerimônia. Mas esta influência, também adivinha
do prestígio inerente às suas atividades.
Os Tupinambás acreditavam que o
ritmo de sua vida se ligava ao caráter das suas relações com os pajés. Tudo
sairia bem, enquanto fossem seus amigos, caso contrário, se recebessem alguma
imprecação deles, atribuíam os acontecimentos nefastos às forças maléficas
por eles desencadeadas. Através destes dados, conclui-se que a influência do
pajé na sociedadeTupinambá era de fato excepcional. Mas também evidencia-se,
que se esta influência advinha do prestígio inerente às suas atividades, o
acesso a estas estava influenciado por uma série de fatores. Acredita-se que
anteriormente as manifestações dos seus poderes mágicos, o indivíduo já
ocupava uma posição de destaque na hierarquia tribal, ou era membro do
Conselho de Chefes (Gerontes), ou chefe da maloca, ou ainda um líder guerreiro.
Esta teoria explicaria o fato de alguns pajés acumularem às suas atividades
curativas, mágicas e religiosas, as de chefes tribais.
Admite-se, portanto, que a
qualificação de chefe, antecedia o exercício das atividades
mágico-religiosas. Em outras, palavras, o pajé já retinha em suas mãos os
meios mais eficazes de controle social. Em nome da tradição e dos espíritos
dos antepassados, ele adquiria poderes para desencadear toda a espécie de
movimentos sociais. É muito poder para um só homem!
Normalmente, havia uma divisão
que separava nitidamente as funções dos pajés (Poder Atemporal), das
funções do Cacique (Poder Temporal), pois nem sempre os chefes tribais
conseguiam transformar-se em pajés proeminentes. Contudo, a maioria dos pajés
eram recrutados entre os homens mais velhos. Como estes papéis nem sempre se
confundiam na mesma pessoa, as suas relações entre ambos tem certo interesse
analítico. Quando os pajés alcançavam muito prestígio, passavam a ser
procurados com freqüência pelos caciques. Estes tratavam os pajés com grande
cortesia e deferência. Entretanto, houve histórias de antagonismo.

O pajé, constituía um dos
intérpretes mais qualificados da tradição e das experiências dos
antepassados. Conseguia, também sorver o conhecimento mais íntimo da vontade
dos ancestrais, pois representavam o papel de intermediários entre eles e os
companheiros tribais. Suas interpretaçòes, deste modo, assumiam um caráter
duplamente sagrado: subordinavam-se às tradições tribais e exprimiam o
próprio ponto de vista dos antepassados, com os quais os pajés estabeleciam
comunicação.
O pajé ou chefe tribal, que
pretendesse tirar proveito pessoal excessivo de sua situação, correria o risco
de se expor ao ridículo e ao descrédito. Portanto, podemos concluir que as
instituições que facultavam aos velhos, aos chefes tribais e aos pajés amplos
meios de exercício de autoridade, também forneciam os meios de controle
recíproco de seu comportamento e de suas ações.

ENCONTRO COM O XAMANISMO....
É tempo de despertar espiritual,
necessário à todo aquele que deseja recuperar a paixão, a motivação e o
poder transformador, que nos trará mais consciência de nosso papel e missão
que nos trouxe à este mundo.
Todos nós, podemos igualmente
nos deliciarmos com o balanço erótico das ondas do mar, sentir internamente os
efeitos dos ciclos lunares, assim como olhar e entender a linguagem de todo o
tipo de animal e introjetar dentro de nós suas qualidades.

Trata-se de viver nossa
Totalidade, liberando forças caóticas e perturbadoras, aprendendo a trabalhar
a nossa "sombra" e aceitando o nosso lado instintivo.
O renascimento do Xamanismo é
uma porta que se abre para navegarmos entre várias dimensões, que nos
conferirá o aprendizado da realidade de pessoas e sociedades de diferentes
tempos. Deste modo, nos será facilidade a compreensão e adaptação às
mudanças de consciência que se operam no presente momento.

Rosane Volpatto
Bibliografia consultada:
A
Organização Social dos Tupinambás - Florestan Fernandes. Inst. Progresso
Editorial S.A.-SP
Raízes
do Brasil. Sérgio Buarque de Holanda. Liv. José Olympio Editora, Rio de
Janeiro, 1946
Pré-história.
Anibal Matos. Comp. Ed. Nacional, SP, 1938.


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