A
GRANDE VISÃO DOS XAMÃS

Desde
a aurora da humanidade, as sociedades tribais veneram homens
que se dizem capazes de entrar em contato direto com espíritos
e divindades. Tais pessoas eram chamadas de curandeiras ou
xamãs e sempre foram requisitados para curar os males do
corpo e da alma de toda sua tribo, obter alimento quando há
fome, interferir no tempo, encontrar objetos perdidos, guiar
espíritos mortos, entre tantas outras coisas.

Os xamãs entram em
transe ou êxtase para entrar em contato com o mundo espiritual.
Para atingir este estado alterado de consciência, meditam em
completo isolamento ou se concentram nos sons rítmicos dos
tambores, cantos e danças ou ainda utilizam drogas medicinais. Não
importando o método, uma vez em transe, o vôo mágico da águia
se concretiza. Entrando no Reino do Grande-Espírito, o xamã
receberá uma mensagem que poderá vir sob a forma de uma canção,
de uma oração ou de um ritual a ser executado.

"Se as portas
da percepção estivessem limpas, tudo pareceria ao homem tal qual
é: infinito." W. Blake. Com a experiência xâmanica nossa
percepção interior se abre sobre um grande despertar mágico,
sobre a energia que só se entrega àquele que sabe ler o Livro da
Natureza. Nos unimos ao espírito da água, das árvores, das
montanhas, o fogo e do Sol. Ligamo-nos à própria essência
misteriosa da Natureza, desvendando todos os seus segredos. Nas
poucas vivências xamânicas que fiz, ainda tenho bem forte
gravado as emoções indescritíveis que senti. Acho que a maioria
de nós já perdeu a noção do sagrado e do mágico, e por
descrença, este mundo simples desabou. A simplicidade da Natureza
está a nossa volta. O frescor do botão de uma flor, o som mágico
dos pássaros, o sonho mineral do seixo, são pequenos milagres
cotidianos que se traduzem com sobriedade e humildade. Mas a
maioria das vezes passa perto de nossos olhos, mas longe do nosso
coração. É preciso ter uma outra visão para aceitar a
realidade cotidiana e a ela aderir para perceber o vivido de cada
coisa. Para mim o xamanismo é um dos portais que se abriu na
busca deste Mundo desaparecido.

A
GRANDE VISÃO DO ALCE NEGRO

Enquanto
viveu, Alce Negro, um xamã sioux, teve inúmeras visões
que lhe indicava o caminho para guiar seu povo nos tempos
difíceis. Sua primeira jornada ao mundo dos espíritos
ocorreu quando ainda era muito pequeno. Durante vários anos
Alce Negro ouvira as vozes que o chamavam, até que quando
completou 9 anos as vozes disseram: "É HORA!".
Com isso, Alce Negro subitamente adoeceu e ficou doze dias
à beira da morte. Durante este período teve a GRANDE VISÃO.

Dois espíritos
desceram do céu para buscar o menino em sua casa. Com eles, Alce
Negro subiu "ao mundo de nuvem.....era uma grande planície
branca com colinas nevadas e montanhas". Lá, numa tenda que
tinha um arco-íris à entrada, foi apresentado aos seis Avós:
espíritos do Leste, Oeste, Norte, Sul, Terra e Céu. Alce Negro
se encheu de temor, pois não eram anciões e sim os Poderes do
Mundo.
Os Avós apontaram
a ele os valores espirituais da vida e o instruíram sobre os símbolos
de seus poderes:

Uma
taça de água e um arco sagrado que fazem a vida ou destroem;
A
erva da saúde e o vento sagrado purificador;
O
cachimbo da paz e a erva do entendimento;
O
arco do mundo, simbolizando o universo e
O
bastão florido, símbolo da árvore da vida.

Depois
Alce Negro foi levado ao centro da Terra, onde viu "a
bondade, a beleza e a estranheza da Terra verdejante..as formas
espirituais das coisas tal como deveriam ser."
Devidamente
instruído, Alce Negro ouviu o Avô mais velho dizer-lhe:
"Volte com poder, para o lugar de onde você veio." Alce
Negro acordou em seu povoado e sua doença desapareceu. A preocupação
do menino dera lugar à maturidade de um homem com o conhecimento
do tempo infinito.

É
claro que não devemos ter a pretensão de ter visões como
as do Alce Grande, mas todos nós temos uma mensagem a ser
buscada, um símbolo que nos será ofertado e um
conhecimento grandioso a ser alcançado. Precisamos
reencontrar nossa missão inicial de mediadores do Céu e da
Terra. Este modo simples de ver o mundo, como vêem e vivem
algumas tribos da América, já não existe em nossa nova época
materialista, em que o homem pretensioso e cheio de
ceticismo, por receio de ser tachado de supersticioso,
perdeu sua rica identidade com a magia.

Texto
pesquisado e elaborado por
ROSANE VOLPATTO

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