Quando fala-se em
Ciranda, as pessoas já associam a palavra a uma dança de roda e a infância.
Realmente, reconhecemos na Ciranda a lembrança de uma brincadeira muito gostosa,
um pedaço de alguma coisa lá dentro que é muito nossa e quando ela chega,
giramos ao sabor destas lembranças...
Mas a Ciranda não é só
divertimento de crianças, é também uma dança de roda de adultos, de origem
portuguesa, que apareceu no litoral norte de Pernambuco e que parece ter sido
adaptada e recriada pelas mulheres dos pescadores que esperavam o retorno de sue
maridos, cantando e dançando. Os passos, envolvidos por canções suaves e
melódicas que lembram mantas populares, imitam os movimentos do oceano e parecem
ser embalados por suas ondas.
É dançada em círculos,
que, geralmente, giram somente para um lado. Se a roda gira para a esquerda,
coloca-se o pé esquerdo atrás e à frente. Em seguida, o direito dá um pulino ou
avança para o lado, complementando o passo. Mesmo com a dança apresentando
passos característicos como a onda, o saci, a espuma, a marola, o ciscadinho e a
concha ou vírgula, dentre outros, são infinitas as possibilidades de
improvisação. O mestre ou a mestra improvisam algum refrão e são acompanhados
pelos demais dançarinos, que o repetem e criam mais movimentos.
Uma das cirandeiras de
Pernambuco muito conhecida é a Lia de Itamaracá. Segundo ela, "a ciranda
acompanha as ondas do mar, sempre com o pé esquerdo".
A Ciranda surgiu também,
simultaneamente, em áreas do interior da Zona da Mata Norte deste Estado.
Há várias
interpretações para a origem da palavra ciranda, mas segundo o Padre Jaime
Diniz, um dos pioneiros a estudarem o assunto, vem do vocábulo espanhol zaranda,
que significa instrumento de peneirar farinha e que seria uma evolução da
palavra árabe çarand.
Ciranda é uma dança
comunitária que não tem preconceito quanto ao sexo, cor, idade, condição social
ou econômica dos participantes, assim como não há limite para o número de
pessoas que dela podem participar. Começa com uma roda pequena que vai
aumentando, a medida que as pessoas chegam para dançar, abrindo o círculo e
segurando nas mãos dos que já estão dançando. Tanto na hora de entrar como na
hora de sair, a pessoa pode fazê-lo sem o menor problema. Quando a roda atinge
um tamanho que dificulta a movimentação, forma-se outra menor no interior da
roda maior. A música é executada por um grupo denominado “terno”, colocado no
centro da roda, tocando instrumentos de percussão (bumbo,tarol, caixa, ganzá) e
de sopro (pistons e trambone). As canções são tiradas pelo mestre-cirandeiro e
respondida pelo coro dos demais, têm temáticas que refletem a experiência da
vida: na zona cafeeira canta-se o engenho, o eito, a safra; na zona litorânea,
os coqueiros, as praias, as canoas, os pescadores, as sereias, o vento; o amor,
porém, é tema constante, sob várias formas: moça, beijo, casamento, abraço,
“cheiro”, etc.
Não possui calendário
fixo: é dança de um tempo ou dia qualquer. E vista por ocasião de casamentos,
batizados e festas em geral.
Por volta da década de
70, muitas Cirandas começaram a se apresentar em locais turísticos do Recife,
como por exemplo, no Pátio de São Pedro, na Casa da Cultura, etc. Isto modificou
um pouco o caráter do folguedo que passou a ter uma intenção mais de espetáculo.
Desta forma, algumas transformações foram inevitáveis: a saída do centro da
roda, dos músicos, do mestre e do contra-mestre, para melhor se adaptarem aos
microfones e aos aparelhos de som; limite de tempo para se brincar, entre outras
coisas.
A dança
folclórica Ciranda do Norte, em sua concepção, nota-se uma variação de passos
com diversificação rítmica ( ciranda, xote e valsa ), compreendendo em uma só
letra a dança Ciranda do Norte, com isso aparecendo as seguintes danças, que a
completam como um todo:
Ciranda
Seu Manezinho
Carão
Não se fie em mulher
Despedida da Ciranda, Papete e Coro.
A coreografia
é feita de acordo com os versos cantados que narram o lazer, o trabalho na
agricultura, caça, pesca e outras atividades que se desenvolvem na região. E
dançado sempre em círculo. Para o acompanhamento musical, são utilizados
instrumentos de pau, de corda e de sopro como: Curimbós, maracás, ganzás,
banjos, cacetes e flautas.
A indumentária
da Ciranda do Norte caracteriza a moda da época, as classes de baixa renda, onde
as mulheres usavam blusa geralmente com babados e mangas soltas, com saias
rodadas, estampadas abaixo do joelho e anáguas de renda e os homens usavam
camisas estampadas sociais combinando com a saia da dama e calça preta, branca
ou azul mescla. Ambos dançam de Chapéu de palha de abas curtas e sapatilhas
artesanais ou descalços.
O conjunto
obedece a mesma roupa dos homens com estampas diferentes. O caçador se veste com
camisa lisa social, calça preta, bota. Chapéu de palha e espingarda.
O carão (em forma de cordão de pássaro, onde à frente eles levam o carão, que
está presente na letra da música) apresenta roupa específica ao pássaro, com
plumagens e pedras que dão realce a sua vestimenta.
No Rio de Janeiro o termo
Ciranda pode significar tanto uma dança específica quanto uma série de danças de
salão, que obedecem a um esquema: Abertura, Miudezas e Encerramento. Enquanto
dança, faz parte das miudezas da Ciranda, baile.
Ciranda-baile, também
denominada Chiba, tem na Chiba-cateretê a que faz abertura da série. As Miudezas
são um conjunto de variadas danças com nomes e coreografias diversos:
Cana-verde-de-mão, Cana-verde-valsada, Caranguejo, Arara, Flor-do-mar, Canoa,
Limão, Chapéu, Choradinha, Mariquita, Marrafa, Ciranda, Namorador, Zombador. Os
movimentos constam de círculko único, com ou sem solista, pares soltos, dança de
pares enlaçados, sapateados, volteios, etc. O Encerramento é feito com a Tonta,
tambpem chamada Barra-do-dia. As músicas são na forma de solo-coro, tiradas pelo
mestre em quadras tradicionais e circunstanciais, respondidas pelas vozes dos
demais. O acompanhamento musical é feito por viola, violão, cavaquinho e adufes.
Na Chiba-cateretê o conjjunto musical é composto ainda do Mancado: um caixote
percutido com tamancos de madeira.
A Ciranda é a
mais simples de todas as danças populares. Não requer prática, nem habilidade.
Seu ritmo lento e suave permite também a participação de pessoas idosas e atrai
crianças pela facilidade e singeleza. Dando oportunidade de expressão corporal
até aos mais tímidos.
Ciranda é
brincadeira, é divertimento, é tradição. É só entrar no balanço contagiante da
Ciranda e deixar o mundo girar!
Estava
Na beira da praia
Ouvindo as pancadas
Das águas do mar
Esta ciranda
Quem me deu foi Lia
Que mora na ilha
De Itamaracá